14.04.2017 Views

A filha da feiticeira - Paula Brackston

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

69<br />

Aquela noite, Bess e sua mãe sentaram-se perto do fogo, exaustas demais<br />

para trabalhar em sua costura, desanima<strong>da</strong>s demais para aquecer algumas lentilhas.<br />

Elas haviam acabado com uma cunha de queijo seco e esgotado o último garrafão<br />

de sidra algumas horas antes. Bess sentiu que seu estômago ameaçava rejeitar até<br />

mesmo aquilo. Olhou para a mãe. A luz irregular do fogo iluminava um lado do<br />

rosto, outrora belo, lançando sombras mortais debaixo de seus olhos. Uma visão de<br />

como Thomas estava <strong>da</strong> última vez que o vira surgiu na mente de Bess. Ela fechou<br />

os olhos para afastá-la, mas ain<strong>da</strong> assim persistia, pior na escuridão de suas<br />

pálpebras fecha<strong>da</strong>s. Em vez disso, olhou para Margaret. Ela dormia tranquilamente<br />

agora, enquanto, na cama ao lado, John gemia e se virava espasmodicamente.<br />

— Ela não parece estar sofrendo tanto agora — disse Bess à sua mãe.<br />

A mãe continuava a olhar para as chamas.<br />

— Ela está dormindo.<br />

— Isso é bom, certo? Com o repouso pode vir a cura.<br />

— Pode. — A voz <strong>da</strong> mãe não tinha convicção.<br />

Bess não conseguia mais suportar suas respostas evasivas.<br />

— Será que ela viverá, mamãe? Diga-me que sim.<br />

Agora Anne mu<strong>da</strong>ra a direção de seu olhar. Olhou primeiro para onde<br />

Margaret estava, depois virou-se para Bess. Mesmo esses pequeninos movimentos<br />

pareciam envolver um esforço enorme.<br />

— Ela está com a peste, Bess.<br />

— Mas alguns sobrevivem a ela, não é? Alguns vivem.<br />

— Alguns, sim. Os fortes e os adultos. Os mais propensos a sucumbir são os<br />

fracos. Os velhos e os muito jovens. — Anne não tinha energia para a emoção. O<br />

fogo tomou sua atenção mais uma vez.<br />

Bess se levantou.<br />

— Não vou deixá-la morrer. Não vou! — disse ela. Balançou a chaleira sobre<br />

o calor, depois foi até a despensa buscar mel. Derramou água quente em uma tigela<br />

e agitou o xarope âmbar. Ela o levou para Margaret. Erguendo a criança sobre os<br />

travesseiros, falou-lhe em voz baixa.<br />

— Olhe, pequena Meg, veja o que eu lhe trouxe. Aqui. — Levou uma colher<br />

do líquido morno até os lábios rachados de sua irmã. As pálpebras de Margaret

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!