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A filha da feiticeira - Paula Brackston

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Assim que ele deixou a mesa, ambos olhamos admirados para nossa<br />

refeição. Depois de semanas de rações e comi<strong>da</strong>s horríveis a que estivéramos<br />

submetidos, a refeição à nossa frente era mesmo magnífica. Eu podia detectar a<br />

manjerona, o alecrim, o alho e as cebolas doces por entre os tomates e feijões e<br />

pe<strong>da</strong>ços de coelho e salsichas. Nunca fora tão saboroso esperar por um prato de<br />

comi<strong>da</strong>. Mas eu realmente desejava que Archie continuasse. Não queria que o<br />

momento de confidências fosse perdido.<br />

— Prossiga — disse eu —, você estava me contando sobre sua mãe. Sobre<br />

você. Por favor, não pare.<br />

— Sabe que nunca contei na<strong>da</strong> disso a ninguém? A nenhum dos homens.<br />

Ninguém. Mas eu queria lhe contar. Queria que você compreendesse. Queria que<br />

você visse que eu — hesitou ele —, que eu entendo você.<br />

Naquele momento, foi como se o resto do lugar não existisse mais. Eu não<br />

prestava atenção a mais na<strong>da</strong>, exceto ao homem muito especial sentado à minha<br />

frente. E ao significado real do que ele estava dizendo. Ele me conhecia. Ele sabia o<br />

que eu era! Não teria de me esconder ou fingir. Não teria de tentar explicar ou me<br />

desculpar. Sua habili<strong>da</strong>de de enxergar o que outros não podiam ver, de se conectar<br />

com o outro mundo, significava que eu estava nua diante dele. Eu não era a<br />

enfermeira Elise nem mesmo Bess. Bem, eu era sim, mas não apenas elas. Eu era<br />

tudo o que sempre fora. Elizabeth Anne Hawksmith. Nasci<strong>da</strong> quando o mundo era<br />

muito mais novo. Transforma<strong>da</strong> de simples curandeira em imortal. De uma vez por<br />

to<strong>da</strong>s, para o bem ou para o mal, uma <strong>feiticeira</strong>. Meu coração começou a cantar<br />

diante dessa alegria. Antes que pudesse detê-las, lágrimas escorreram por meu<br />

rosto. Lágrimas de pura felici<strong>da</strong>de.<br />

— Tenha cui<strong>da</strong>do. — Archie me ofereceu seu lenço. — Albert ficará ofendido<br />

se você adicionar mais sal ao seu já perfeito cassoulet.<br />

— Você não... me despreza?<br />

— Desprezá-la? — Ele balançou a cabeça e esticou a mão sobre a mesa para<br />

tomar a minha. — Meu amor, minha doce e queri<strong>da</strong> Bess. Eu a adoro. Você tem<br />

meu coração completa e totalmente. Por todo o tempo.<br />

Deixei que ele apertasse minha mão. Ele sorriu para mim.<br />

— Vamos lá — disse ele —, vamos comer.<br />

Tínhamos apenas começado a mexer em nossa refeição divina quando vi a<br />

atenção de Archie ser toma<strong>da</strong> por alguém que entrava no café. Seu rosto ficou um

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