14.04.2017 Views

A filha da feiticeira - Paula Brackston

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

175<br />

— Eu sei que é irregular...<br />

— Muito!<br />

— ... no entanto, parece uma oportuni<strong>da</strong>de tão providencial. A clínica tem<br />

estado tão ocupa<strong>da</strong> ultimamente. — Ela viu o olhar horrorizado <strong>da</strong> senhora e tentou<br />

um de seus sorrisos mais brilhantes. — Quem sabe só desta vez, se não se importar?<br />

A sra. Garvey fez uma careta, depois suspirou profun<strong>da</strong>mente, as ren<strong>da</strong>s em<br />

seu decote tremulando com a expiração.<br />

— Muito bem. Desta vez, tudo bem. Mas isso não deve se tornar um hábito.<br />

Tenho uma reputação a zelar. Peça às suas moças para serem discretas, por favor.<br />

Na parte de trás <strong>da</strong> casa, havia uma pequena sala quadra<strong>da</strong> com uma<br />

modesta janela que <strong>da</strong>va para um pátio de paralelepípedos. Um saguão ligava a sala<br />

ao exterior com uma porta robusta. Era por essa porta que Eliza recebia suas<br />

pacientes. Três noites por semana, a partir <strong>da</strong>s oito horas, ela fazia o possível para<br />

ver, aconselhar e tratar mulheres, tantas quantas viessem. As mulheres<br />

apresentavam uma varie<strong>da</strong>de de doenças, lesões e queixas tão diversifica<strong>da</strong>s quanto<br />

elas mesmas em i<strong>da</strong>de, forma e tamanho. O que tinham em comum, no entanto, era<br />

a profissão, pois eram to<strong>da</strong>s prostitutas. Quando Eliza se mu<strong>da</strong>ra para Londres,<br />

muitos anos antes, ficara choca<strong>da</strong> e entristeci<strong>da</strong> com a vi<strong>da</strong> miserável que aquelas<br />

mulheres levavam. Eram força<strong>da</strong>s a caminhar pelas ruas vendendo seus corpos e<br />

sua digni<strong>da</strong>de, arriscando sua segurança e saúde, à mercê de ca<strong>da</strong> bêbado com<br />

alguns centavos para gastar, insulta<strong>da</strong>s, excluí<strong>da</strong>s, despreza<strong>da</strong>s por todos, cui<strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />

por ninguém. A injustiça <strong>da</strong> censura <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de infligi<strong>da</strong> a essas mulheres levou<br />

Eliza a agir. Ela não podia mu<strong>da</strong>r o que as pessoas pensavam sobre os que tinham<br />

menos sorte do que elas, ou mu<strong>da</strong>r a forma como as pessoas julgavam as outras.<br />

Não podia fazer na<strong>da</strong> para amenizar o desprezo ou mesmo a violência que os<br />

homens que usavam essas prostitutas infligiam a elas ou restabelecer o equilíbrio<br />

que permitisse aos homens buscarem prazer sem julgamento ou crítica. O que ela<br />

podia fazer era aju<strong>da</strong>r a curar essas mulheres. Ela persuadira a sra. Garvey, com<br />

muita conversa e não menos dinheiro, que isso era algo piedoso e digno de ser feito,<br />

que sua posição na comuni<strong>da</strong>de não seria negativamente afeta<strong>da</strong> pelo fato de a<br />

clínica estar localiza<strong>da</strong> em sua proprie<strong>da</strong>de. Pelo contrário, seria eleva<strong>da</strong>. As<br />

mulheres usariam sempre a porta de trás, nunca iriam chamá-la quando Eliza não<br />

estivesse presente, e não se apresentariam em estado de embriaguez. Quando foi<br />

espalha<strong>da</strong> a notícia de que havia uma médica disposta a tratar as desafortuna<strong>da</strong>s<br />

por qualquer doação que elas pudessem oferecer, meninas de 12 anos e até avós

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!