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A filha da feiticeira - Paula Brackston

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Bess tampou o pote de óleo rapi<strong>da</strong>mente e fez o que a mãe lhe pedia.<br />

Jantaram em um silêncio familiar, com exceção dos comentários ocasionais<br />

de Margaret e do crepitar do fogo. As noites calmas de verão eram uma bênção,<br />

mas exigiam longas horas de trabalho no campo, e ninguém na família se sentia<br />

inclinado para uma conversa anima<strong>da</strong>. Depois de aju<strong>da</strong>r a tirar a mesa, John se<br />

sentou perto <strong>da</strong> lareira com seu cachimbo. Thomas foi para fora cui<strong>da</strong>r dos animais<br />

antes de ir dormir. Anne acendeu duas velas e se sentou em sua cadeira de balanço<br />

perto <strong>da</strong>s meninas, que já haviam apanhado a costura e as agulhas na cesta. Bess<br />

não gostava <strong>da</strong> tarefa e sempre se sentia insatisfeita com o resultado do trabalho.<br />

Margaret, por outro lado, tinha um talento natural para o bor<strong>da</strong>do, e seus dedinhos<br />

ágeis trabalhavam com as agulhas sem jamais perder um ponto sequer ou descui<strong>da</strong>r<br />

de um acabamento. Ela pensou em Bess como uma pequena aranha de jardim,<br />

tecendo sua teia para apanhar o orvalho <strong>da</strong> manhã. A irmã percebeu que estava<br />

sendo observa<strong>da</strong> e abriu um largo sorriso para ela. Uma comunicação silenciosa<br />

aconteceu entre as duas, um leve aceno, uma risadinha abafa<strong>da</strong>.<br />

— Continue, Bess — sussurrou Margaret —, por favor!<br />

Bess sorriu, mas balançou a cabeça, usando os olhos para lembrar a irmã de<br />

que sua mãe estava senta<strong>da</strong> bem perto delas. Tentou se concentrar no bor<strong>da</strong>do. A<br />

luz fraca <strong>da</strong> vela a forçava a apertar os olhos para enxergar a linha fina, e o esforço<br />

começava a fazer sua cabeça doer. A irritação crescia dentro dela. Por que tinham<br />

de arruinar sua vista e testar seus nervos com um trabalho tão entediante? Onde<br />

estava escrito que ela, Bess, deveria passar tantas horas concentra<strong>da</strong> em um<br />

trabalho tão exaustivo só para colocar algumas moe<strong>da</strong>s no bolso <strong>da</strong> família? O<br />

pensamento de que alguma <strong>da</strong>ma rica, que sem dúvi<strong>da</strong> passava seu tempo com<br />

tarefas bem mais interessantes, enfeitava-se com o resultado do trabalho feito por<br />

Margaret aumentou a raiva na cabeça de Bess. Por um segundo, não conseguiu<br />

controlar seu temperamento, e naquele segundo uma on<strong>da</strong> invisível de pura energia<br />

lhe escapou. As velas na mesa começaram a faiscar. E então, alimenta<strong>da</strong>s por aquele<br />

combustível rico, as chamas cresceram e cresceram, ficando mais brilhantes. Anne<br />

se assustou e levantou-se de um salto. Margaret deu gritinhos de alegria.<br />

— Sim, Bess! — gritou ela, batendo palmas. — Oh, sim!<br />

A sala estava cheia de luz, como se cem velas estivessem acesas. As chamas<br />

se erguiam altas sobre a mesa, ameaçando atingir o teto. John se levantou depressa,<br />

e estava prestes a apagá-las com sua sidra, quando, abruptamente, o fogo <strong>da</strong> vela se<br />

extinguiu. Na escuridão, Bess não podia ver o rosto de sua mãe, mas estava certa de

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