freakonomics - o lado oculto e inesperado de tudo que ... - Ipcp.org.br
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o objetivo aqui é explicar a <strong>que</strong>da da criminalida<strong>de</strong> nos anos 90, o<<strong>br</strong> />
encarceramento é certamente um dos fatores-chave, respon<strong>de</strong>ndo<<strong>br</strong> />
por aproximadamente um terço <strong>de</strong>ssa <strong>que</strong>da.<<strong>br</strong> />
Outra explicação para a <strong>que</strong>da da criminalida<strong>de</strong> costuma<<strong>br</strong> />
aparecer <strong>de</strong> mãos dadas com o encarceramento: o aumento da<<strong>br</strong> />
aplicação da pena capital. O número <strong>de</strong> execuções nos Estados<<strong>br</strong> />
Unidos quadruplicou entre os anos 80 e 90, levando muita gente a<<strong>br</strong> />
concluir — no contexto <strong>de</strong> um <strong>de</strong>bate <strong>que</strong> se prolonga há décadas —<<strong>br</strong> />
<strong>que</strong> a pena capital ajudou a reduzir a criminalida<strong>de</strong>. Tal <strong>de</strong>bate,<<strong>br</strong> />
con<strong>tudo</strong>, ignora dois fatos importantes.<<strong>br</strong> />
Primeiro, em vista da rarida<strong>de</strong> com <strong>que</strong> as penas capitais são<<strong>br</strong> />
executadas neste país e as <strong>de</strong>longas envolvidas, nenhum criminoso<<strong>br</strong> />
seria levado a <strong>de</strong>sistir do crime em função da ameaça <strong>de</strong> execução.<<strong>br</strong> />
Ainda <strong>que</strong> o número <strong>de</strong> penas capitais tenha quadruplicado no<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>correr <strong>de</strong> uma década, houve apenas 478 execuções em todo o<<strong>br</strong> />
país nos anos 90. Qual<strong>que</strong>r pai ou mãe <strong>que</strong> já disse a um filho<<strong>br</strong> />
<strong>de</strong>sobediente, "<strong>tudo</strong> bem, vou contar até <strong>de</strong>z e <strong>de</strong>sta vez vou mesmo<<strong>br</strong> />
castigar você", sabe direitinho qual é a diferença entre um freio e<<strong>br</strong> />
uma ameaça vazia. O estado <strong>de</strong> Nova York, por exemplo, até hoje<<strong>br</strong> />
jamais executou um criminoso <strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>que</strong> a pena <strong>de</strong> morte foi<<strong>br</strong> />
restabeleci-da, em 1995. Mesmo entre os prisioneiros no corredor<<strong>br</strong> />
da morte, o índice anual <strong>de</strong> execuções é <strong>de</strong> apenas 2% — contra os<<strong>br</strong> />
7% <strong>de</strong> risco anual <strong>de</strong> morte ao qual está exposto um integrante da<<strong>br</strong> />
gangue do crack Black Gangster Disciple Nation. Se é mais seguro<<strong>br</strong> />
viver no corredor da morte do <strong>que</strong> nas ruas, custa a crer <strong>que</strong> o<<strong>br</strong> />
temor <strong>de</strong> uma execução seja uma força inibidora do<<strong>br</strong> />
comportamento criminoso. Como os $3 <strong>de</strong> multa pelo atraso dos<<strong>br</strong> />
pais nas creches <strong>de</strong> Israel, o incentivo negativo da pena capital<<strong>br</strong> />
simplesmente não é gran<strong>de</strong> o bastante para alterar o<<strong>br</strong> />
comportamento <strong>de</strong> um marginal.<<strong>br</strong> />
A segunda falha na tese da pena capital é ainda mais óbvia.<<strong>br</strong> />
Suponhamos <strong>que</strong> a pena <strong>de</strong> morte seja um freio. Quantos crimes<<strong>br</strong> />
ela efetivamente impe<strong>de</strong>? O economista Isaac Ehrlich, em um<<strong>br</strong> />
es<strong>tudo</strong> bastante citado <strong>de</strong> 1975, apresenta uma estimativa<<strong>br</strong> />
consi<strong>de</strong>rada otimista: a execução <strong>de</strong> 1 criminoso se traduz em<<strong>br</strong> />
menos 7 homicídios <strong>que</strong> po<strong>de</strong>riam vir a ser cometidos por ele.<<strong>br</strong> />
Façamos as contas.