freakonomics - o lado oculto e inesperado de tudo que ... - Ipcp.org.br

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inovadoras como a do famoso inspetor William Bratton, de Nova<br />York? Muita espuma e pouco efeito. Controle de venda de armas?<br />Não, dada a facilidade com que criminosos continuavam tendo<br />acesso a elas. O que então teria sido?<br />Mais uma vez, uma importante mudança na legislação,<br />ocorrida alguns anos antes e fora do radar da "sabedoria<br />convencional" teria sido decisiva: a legalização do aborto, ocorrida<br />nos Estados Unidos em 1973. Embora em alguns estados, como<br />Nova York e Califórnia, ele já fosse permitido, a decisão abrangeu<br />todo o país. Ora, pobreza na infância e um lar com pai (ou mãe)<br />ausente são dois importantes previsores de futuro comportamento<br />criminoso. Como a maioria dos cerca de um milhão e meio de<br />mulheres que abortaram, anualmente, utilizando-se da legalização<br />eram pobres, adolescentes e solteiras, era de se esperar que, caso<br />aquelas crianças tivessem nascido, o número de criminosos quinze a<br />vinte anos à frente teria sido maior. Logo, a redução da<br />criminalidade teria sido um bônus, não previsto, da legalização do<br />aborto. Usando técnicas estatísticas sofisticadas, Levitt estima que a<br />legalização do aborto explica cerca de metade da queda do nível de<br />criminalidade nos Estados Unidos entre 1990 e 2000.<br />Embora Levitt não faça julgamentos morais e nem políticos<br />em seus estudos, este trabalho sobre aborto, compreensivelmente,<br />lhe gerou críticas e ataques de todos os lados. De grupos religiosos<br />de direita por estar atribuindo um beneficio social ao que eles<br />vêem como crime injustificável. Da esquerda por ter associado crime<br />à pobreza, implicando que a redução no número de marginalizados,<br />em geral membros de minorias étnicas, poderia ser melhor<br />para a sociedade. Em função das críticas, os autores no livro fazem<br />uma rápida análise custo-beneficio mostrando que a perda de vidas<br />pelo aborto não teria compensado os ganhos gerados pela redução<br />da criminalidade. Terreno pantanoso. Teria sido melhor que<br />tivessem suprimido a análise e simplesmente mostrassem os fatos,<br />deixando que cada um tirasse suas conclusões.<br />A ligação entre aborto e criminalidade é uma das idéias mais<br />originais do estudo recente das ciências sociais. Mas a originalidade
de Levitt não pára aí. O que há de comum entre professores de<br />escolas públicas americanas e lutadores de sumô? Será que os dois<br />grupos trapaceiam, os primeiros manipulando os testes de seus<br />alunos em exames de aferição estaduais e os segundos deixando-se<br />vencer em lutas cujo resultado implicaria o rebaixamento do<br />adversário? Como você provaria isto? Qual a semelhança entre a<br />Ku Klux Klan e os corretores de imóveis? O que os fere de<br />morte? Que fatores relativos à infância e à educação no lar afetam<br />o desempenho escolar das crianças? Pode estar certo de que não<br />são os que parecem óbvios. O que se pode inferir sobre os nomes<br />que os pais dão a seus filhos? Esses nomes têm alguma influência<br />sobre o destino das crianças? O tráfico de drogas é rentável para<br />quem?<br />Além de original, Levitt é sem dúvida eclético em seus<br />interesses. Mas originalidade e ecletismo só não bastam. A grande<br />qualidade de Levitt é ter a habilidade extraordinária de pesquisar,<br />obter, analisar e decifrar bancos de dados extensos e complexos,<br />usando princípios econômicos e ferramentais estatísticos para<br />provar seu ponto. Estes fatores, aliados à sua juventude, fazem<br />com que ele possa continuar a nos surpreender e deleitar com descobertas<br />que irão contradizer a "sabedoria convencional" ainda<br />por muitos anos. Aguardo, com muita expectativa, o seguimento<br />deste livro.<br />CLAUDIO L. S. HADDAD<br />Presidente do Ibmec São Paulo
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