freakonomics - o lado oculto e inesperado de tudo que ... - Ipcp.org.br

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estabeleceram um vínculo similar entre a legalização do aborto e a<br />criminalidade. Deixaram de integrar a leva pós-Roe não só milhares<br />de jovens criminosos, mas também milhares de mães solteiras<br />adolescentes — já que muitas das meninas abortadas teriam<br />provavelmente seguido a tendência das próprias mães.<br />Não é preciso dizer que é chocante descobrir que o aborto foi<br />um dos maiores fatores responsáveis pela diminuição da<br />criminalidade da história americana. A sensação é menos darwiniana<br />do que swiftiana, trazendo à lembrança uma velha observação ferina<br />atribuída a G. K. Chesterton: quando inexistem chapéus suficientes<br />para todos, a solução do problema não é cortar algumas cabeças. A<br />queda da criminalidade foi, no jargão dos economistas, " um<br />beneficio acidental" da legalização do aborto. Não é preciso, porém,<br />ser contra o aborto, do ponto de vista moral ou religioso, para<br />perder o prumo diante da noção de que um sofrimento pessoal<br />possa ser convertido em satisfação coletiva.<br />Com efeito, muita gente considera o aborto em si um crime<br />violento. Um jurista afirmou que a legalização do aborto foi pior<br />que a escravidão (já que implica morte) ou que o Holocausto (já que<br />o número de abortos pós-Roe nos Estados Unidos —<br />aproximadamente 37 milhões até 2004 — superou o dos seis milhões<br />de judeus mortos na Europa). Quer se tenha ou não opinião<br />extremada em relação ao aborto, o tema continua a ser<br />extremamente delicado. Anthony V. Bouza, um ex-policial de elite<br />tanto no Bronx como em Minneapolis, descobriu isso quando se<br />candidatou a governa-dor do estado de Minnesota em 1994. Alguns<br />anos antes, Bouza escrevera um livro em que qualificava o aborto<br />como sendo "possivelmente o único instrumento eficaz na<br />prevenção da criminalidade neste país desde o final dos anos 60".<br />Quando essa declaração foi publicada pouco antes da eleição,<br />Bouza despencou nas pesquisas. E acabou derrotado.<br />Seja qual for a posição assumida frente ao aborto, uma<br />pergunta geralmente assoma à mente: que atitude tomar quanto à<br />troca de mais abortos por menos crimes? E possível arbitrar um<br />preço para uma transação tão complicada?
Acontece que os economistas têm o curioso hábito de<br />arbitrar preços para transações complicadas. Consideremos as<br />tentativas para salvar da extinção a coruja pintalgada. Um estudo<br />econômico descobriu que para proteger cerca de cinco mil<br />corujas, os custos de oportunidade — ou seja, a renda de que<br />abdica a indústria hoteleira e outras — seriam da ordem de $46<br />bilhões, ou pouco mais de $9 milhões por coruja. Depois do<br />vazamento de óleo do Exxon Valdez em 1989, um outro estudo<br />estimou a soma que cada domicílio americano estaria disposto a<br />pagar para evitar outro desastre como aquele: $31. Um economista<br />é capaz de fixar um preço até mesmo para as partes do corpo.<br />Consideremos a ta-bela que o estado de Connecticut utiliza para<br />indenizar acidentes de trabalho.<br />PARTE DO CORPO LESADA OU PERDIDA<br />INDENIZAÇÃO EM REMUNERAÇÕES SEMANAIS<br />Dedo (primeiro) 36<br />Dedo (segundo) 29<br />Dedo (terceiro) 21<br />Dedo (quarto) 17<br />Polegar (da mão principal) 63<br />Polegar (da outra mão) 54<br />Mão (principal) 168<br />Mão (a outra) 155<br />Braço (principal) 208<br />Braço (o outro) 194<br />Dedo do pé (dedão) 28<br />Dedo do pé (qualquer outro) 9<br />Pé 125<br />Nariz 35<br />Olho 157<br />Rim 117<br />Fígado 347
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