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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

PREFÁCIO<br />

As relações sociais de género, incluindo os processos identitários a elas<br />

associadas, constituem um dos objectos mais estudados pelas ciências<br />

sociais contemporâneas. Embora sem termo de comparação com o que<br />

se passa no mundo anglo-saxónico e noutras paragens, também os cientistas<br />

sociais portugueses têm vindo a interessar-se progressivamente<br />

pelo tema. O que é surpreendente é a escassez de trabalhos dedicados às<br />

questões de género em populações imigrantes.<br />

Não por falta de pesquisas sobre imigração e etnicidade. Este é um<br />

domínio de investigação que está no topo da agenda científica em<br />

Portugal. Na última década, fizeram-se em todas as disciplinas das ciências<br />

sociais centenas de trabalhos sobre imigração, imigrantes e etnicidade.<br />

Os fluxos migratórios, os perfis socioculturais das populações<br />

migrantes, a inserção dos imigrantes no mercado de trabalho ou as políticas<br />

de imigração, a multiculturalidade nas escolas, entre vários outros<br />

tópicos, conquistaram, e bem, a atenção qualificada dos investigadores<br />

portugueses. Mas as relações de género, e a situação das mulheres imigrantes<br />

em particular, têm ficado à margem desse interesse.<br />

Com raras excepções, os estudiosos da imigração e da etnicidade têm<br />

ignorado as relações de género e os estudiosos das relações de género<br />

têm ignorado as populações imigrantes e outros grupos etnicamente<br />

diferenciados.<br />

As razões para este desencontro prendem-se, em parte, com a própria<br />

organização e dinâmica do campo científico, que com certa frequência,<br />

levam a que esforços de pesquisa que poderiam encontrar-se em algum<br />

ponto se desconheçam mutuamente, por vezes de forma activa.<br />

Mas à parte esse efeito perverso interno ao mundo da ciência, o que está<br />

em causa, neste e noutros domínios, é o modo como se estabelece a<br />

relevância científica e social dos temas passíveis de investigação, que<br />

pode deixar num fundo de obscuridade aspectos da realidade que deveriam<br />

estar na primeira linha da atenção.<br />

É um paradoxo que as relações de género, especialmente as desigualdades<br />

entre homens e mulheres, sejam objecto generalizado de preocupação<br />

pública e análise científica, e que deixem de o ser no que às<br />

populações imigrantes diz respeito. E, no entanto, sabe-se que nessas<br />

populações e noutros grupos etnicamente minoritários, as relações de<br />

género podem ser extremamente desfavoráveis às mulheres, na esfera<br />

Maria Abranches<br />

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