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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

heranças culturais através da sua transmissão aos filhos e os ganhos<br />

conseguidos com factores como a escolaridade elevada dos mesmos,<br />

que, por seu lado, poderá contribuir para a diluição de elementos<br />

culturais como essa mesma língua de origem, através do alargamento<br />

das redes de sociabilidades à sociedade receptora.<br />

“Olha, já falei mais a língua da Índia. O meu pai exigia… não exigia,<br />

gostava que falássemos a nossa língua. Gostava muito, sabes<br />

Para não perdermos as nossas origens. Em casa falava-se<br />

metade português, metade indiano. Era sempre assim uma<br />

mistura. Agora, com o meu marido, falo português, sempre”.<br />

(Latifah, 27 anos, origem indiana, filha de Raja. Chegou a Portugal<br />

em 1981, com 5 anos)<br />

“Falo tanto indiano como português, as duas línguas, sim. As<br />

minhas filhas também sabem. Com a minha sogra falava em<br />

indiano, portanto, as miúdas também falavam indiano. A minha<br />

sogra falava muito pouco português, muito pouco”. (Raja, 49 anos,<br />

origem indiana, mãe de Latifah. Em Portugal desde 1981)<br />

“O que se fala é o meman, que é indiano, que eu sei falar. Não<br />

aprendi, foi de ouvir a minha avó, a minha família... O meu pai com<br />

as irmãs fala muito em português mas também fala muito em<br />

indiano. E só de ouvir... Mas em minha casa sempre falámos<br />

português. Falo muito pouco meman, só mesmo quando... Sabes<br />

aquelas tias e aquelas velhas assim que não falam mesmo<br />

português, e perguntam: «Então, está tudo bem», lá respondo”.<br />

(Nisa, 24 anos, origem indiana, enteada de Samirah. Chegou a<br />

Portugal em 1979, com 1 mês)<br />

Apenas Leila, cujo marido, de origem mista portuguesa e indiana, não<br />

falava nenhuma das línguas indianas, falou sempre português após o<br />

casamento, não tendo sido transmitidas as línguas indianas aos filhos:<br />

“Falo meman, urdo, gujarati... O meu marido falava português, só.<br />

Ele não aprendeu árabe, não aprendeu gujarati, não aprendeu<br />

nada. Ele só estudou o português, mais nada. Depois de casar era<br />

só português, com os filhos... Por isso é que eles não aprenderam,<br />

só eu sozinha é que sei falar essas línguas”. (Leila, 67 anos,<br />

origem indiana, mãe de Manar. Em Portugal desde 1976)<br />

Samirah, por sua vez, apresenta uma especificidade no seu quadro<br />

linguístico de referência, que se liga ao seu percurso migratório. Tendo<br />

vivido dos 8 aos 22 anos em Inglaterra, o inglês foi a língua que falou<br />

durante mais tempo, em simultâneo com as línguas de origem indiana:<br />

“A língua urdo o meu avô gostava muito, e praticou-se com os<br />

filhos dele, que são os meus tios e o meu pai. E depois passou<br />

Maria Abranches<br />

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