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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

sendo apenas uma entrevistada de dupla origem – Fulé – filha de pai<br />

guineense mandinga e de mãe caboverdiana. Tendo praticado a religião<br />

católica durante o período em que viveu com a mãe, na Guiné, passou a<br />

autoidentificar-se sobretudo como mandinga e a praticar a religião<br />

muçulmana a partir dos 13 anos, altura em que foi viver com o pai:<br />

“A minha mãe divorciou com o meu pai quando eu tinha 2 anos de<br />

idade. Da escola corânica só fiz o início, quando era mais nova, da<br />

idade da minha filha. A gente ensinava, escrevia, a gente lia lá,<br />

e essas coisas, mas isso não durou, porque a minha mãe me levou<br />

a Bubaque, ilhas de Bijagós, e ficámos lá. Eu fui na minha mãe<br />

tinha 9 anos e meio, voltei para o meu pai tinha 13 anos e meio.<br />

O meu pai foi-me lá mesmo buscar, eu e a minha irmã, e trouxe-<br />

-nos para Bissau”.<br />

[E quando vivia com a sua mãe não seguia a religião muçulmana]<br />

“Não, não, nada disso. Com a minha mãe ia à igreja, estudei<br />

catecismo. Acabei o catecismo, ia lá na missão católica, fazia<br />

hóstia… Fazia tudo, porque a escola que eu começava a ir era<br />

escola católica, da missão católica. Quando voltei para Bissau<br />

deixei disso e entrei mais na religião muçulmana. Eu sou<br />

muçulmana, do meu pai. Isso é muito importante, muito<br />

importante para mim. É muito importante, muito, muito importante”.<br />

(Fulé, 44 anos, origem guineense, em Portugal desde 1999)<br />

Do lado das indianas, por sua vez, a ligação à Índia provém geralmente da<br />

geração dos pais ou dos avós. Das mulheres mais velhas, apenas Fatimah<br />

e Fariah se autoidentificam como moçambicanas mais do que como<br />

indianas, sendo as duas entrevistadas que possuem nacionalidade moçambicana<br />

(ver quadro 2), e que, tal como veremos no capítulo 5, falavam<br />

dialectos moçambicanos e não indianos, no país de origem. Fatimah, de<br />

resto, refere ter moçambicanos negros na família de origem, facto que<br />

evidencia uma origem étnica mista.<br />

Leila e Mariatu, com pais de origem indiana e guineense mandinga,<br />

respectivamente, casaram-se com pessoas de origem étnica mista ou<br />

diferente da própria. Mista, no caso da primeira, cujo cônjuge tem origens<br />

portuguesas na família, e diferente, no caso da segunda, na medida em<br />

que o marido, embora guineense, é de etnia fula:<br />

“Meu pai é da Índia mesmo, ele nasceu na Índia. Minha mãe é<br />

indiana, mas nasceu em Moçambique, mas os pais dela são da<br />

Índia. (...) Meu marido até tem familiar dele português. Meu<br />

marido é indiano, o pai é indiano, a mãe é filha de uma portuguesa<br />

e de um indiano. Por isso tem muita mistura”. (Leila, 67 anos,<br />

origem indiana, em Portugal desde 1976, mãe de Manar)<br />

Maria Abranches<br />

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