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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

para a fixação nestas zonas, através da manutenção de laços construídos<br />

com base numa origem territorial cultural comum. A proximidade<br />

residencial favorece, assim, a troca de serviços e a criação de redes de<br />

entreajuda.<br />

É importante referir ainda que as famílias indianas de classes mais altas<br />

desvalorizam geralmente, pelo contrário, a aquisição de residências em<br />

áreas de concentração indiana, preferindo a qualidade habitacional<br />

associada a zonas residenciais onde predominam indivíduos autóctones.<br />

Também as mais jovens, por vezes, poderão preferir afastar-se desses<br />

círculos territoriais controlados, tal como refere Nisa, residente no<br />

Laranjeiro:<br />

“Sabes, o nosso meio é um meio muito pequeno e as coisas<br />

sabem-se muito facilmente. O meu namorado, por exemplo, vive<br />

em Telheiras e, portanto, não tem ninguém, mas eu, por exemplo,<br />

na zona em que vivo, parece que as pessoas sabem sempre muita<br />

coisa. Depois, se vêm ter comigo, ou se me vêm deixar aqui à noite<br />

e alguém vê e comenta...” (Nisa, 24 anos, origem indiana, chegou<br />

a Portugal em 1979, com 1 mês)<br />

A propósito do local onde gostaria de viver após o casamento, a mesma<br />

entrevistada menciona precisamente a vontade de se afastar das redes de<br />

fixação criadas pelos elementos mais velhos da população muçulmana:<br />

“Nem pensar, nem Laranjeiro nem Odivelas. Quero ir mais para o<br />

centro de Lisboa. (...) Os meus avós paternos de Moçambique<br />

vieram viver connosco e, entretanto, por serem avós, por serem<br />

pessoas mais velhas, acaba por funcionar muito ‘onde é que os<br />

amigos vivem’, acabamos por nos concentrar muito. São os meus<br />

avós que nos puxam para o Laranjeiro, percebes Porque querem<br />

estar perto dos amigos e querem estar perto dos familiares,<br />

e tudo o mais. Acabei por ficar lá, e já lá estou há 20 anos, para aí.<br />

Mas não tenho amigos lá, não. São tudo pessoas muito mais...<br />

É assim, no Laranjeiro há muito fanatismo, percebes” (Nisa, 24<br />

anos, origem indiana)<br />

A já referida escola de Palmela, que reúne o ensino religioso e oficial, é<br />

particularmente exemplificativa da dinâmica deste grupo residente na<br />

zona. Também em Odivelas, outra zona residencial que concentra um<br />

número elevado de muçulmanos, foi criada uma escola islâmica. Este tipo<br />

de ensino tradicional é, de facto, mais apreciado pela população mais<br />

velha e fortemente religiosa:<br />

“Eu comecei a praticar a religião desde os 10 anos. Eu sempre<br />

segui a religião muçulmana. Meus pais também foram mesmo<br />

Maria Abranches<br />

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