PERTENÃAS FECHADAS EM ESPAÃOS ABERTOS - Acidi
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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />
Não sendo uma amostra representativa, as entrevistadas de origem<br />
indiana dividem-se entre o concelho de Odivelas, seguindo-se a Amadora,<br />
Lisboa e Almada. Apenas uma entrevistada reside no concelho de Loures<br />
e uma no concelho de Sesimbra (ver quadro 5). As entrevistadas<br />
guineenses, por seu lado, distribuem-se sobretudo por Vila Franca de<br />
Xira, seguindo-se Lisboa e Sintra e, por fim, Amadora.<br />
A casa própria é o regime de propriedade comum à quase totalidade das<br />
entrevistadas de origem indiana (apenas Hana que, como já vimos,<br />
apresenta uma trajectória familiar complexa e algumas dificuldades<br />
económicas, reside numa casa alugada), enquanto as guineenses se<br />
dividem entre seis proprietárias (frequentemente não as próprias, mas<br />
pelo menos um dos membros do agregado familiar em que se inserem,<br />
tal como se verifica entre as indianas), as que mantêm o aluguer como<br />
regime de propriedade (cinco mulheres) e uma residente numa casa de<br />
habitação social (ver quadro 5). Todavia, também o percurso residencial<br />
das mulheres de origem indiana passou frequentemente pelo aluguer e<br />
por uma fase de várias mudanças e de concentração de um número<br />
elevado de familiares no mesmo alojamento, que geralmente<br />
caracteriza o período inicial de fixação, logo após a chegada ao país<br />
receptor.<br />
“Era uma casa com um quarto, uma sala e uma kitchenette.<br />
Vivíamos tipo doze pessoas, tudo família, porque vim eu com os<br />
meus tios, depois vieram os meus avós, vieram os meus pais…<br />
Depois, claro, cada um teve que se arranjar, não é Mas ainda<br />
chegámos a viver doze pessoas naquela casa”. (Ayra, 43 anos,<br />
origem indiana, em Portugal desde 1975)<br />
“Nós vivíamos numa pensão, quando eu cheguei. Depois<br />
morámos em casa de um colega dele [marido], depois fomos<br />
morar num quarto… Fomos, assim, alugando morada. Primeiro<br />
era uma casa assaltada, uma casa velha, abandonada, e então, os<br />
homens, muitos assaltavam, e o meu marido, como soube, foi lá<br />
também. Como chovia muito, arranjámos outra casa ali na<br />
Avenida, era um sótão. Morámos aí durante um mês, Deus nos<br />
ajudou logo, conseguimos ali saber dessa casa em Vialonga e,<br />
então, não demorou muito, deram-nos a chave”. (Mariatu, 44<br />
anos, origem guineense, em Portugal desde 1977)<br />
“Naquela altura eu ocupei uma casa abandonada com marido,<br />
filhos e mais colegas brancos dele também que trouxeram<br />
mulheres africanas. Depois aquilo foi dividido em casas. Aqui foi<br />
dado, aqui é da Câmara. Aqui já estou há vinte anos”. (Musuba, 69<br />
anos, origem guineense, em Portugal desde 1968)<br />
Maria Abranches<br />
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