11.01.2015 Views

PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

mente o ensino geral e o Alcorão e árabe são, por exemplo, muitas vezes<br />

inseridos nesse subgrupo pelas próprias entrevistadas. Nisa, por exemplo,<br />

“salienta a sua vontade de ir viver para longe do Laranjeiro. Fala-me<br />

da escola de Palmela, não muito longe dali, onde funciona a escola<br />

religiosa e o ensino oficial em simultâneo, e que considera ter um<br />

ambiente um pouco estranho. Uma das suas amigas de infância, de resto,<br />

é actualmente professora nessa escola, e tornou-se uma “ninja”, dessas<br />

que cobrem totalmente o rosto, deixando apenas os olhos descobertos,<br />

tal como todas as professoras que aí ensinam. Confessa-me não conseguir<br />

entender o que leva uma pessoa que, em criança, partilhava com ela<br />

as mesmas brincadeiras e os mesmos gostos, a seguir essa via do Islão<br />

que considera demasiado fechada”. (Excerto do diário de campo, Agosto<br />

de 2004).<br />

2.3. A Componente Feminina da Imigração Muçulmana:<br />

Processos de (re)construção Identitária<br />

entre Mulheres Migrantes<br />

A importância do género nos processos dinâmicos que caracterizam a<br />

construção identitária no contexto específico da imigração é, tal como já<br />

foi referido, frequentemente subvalorizada. Contudo, as desigualdades<br />

frequentemente marcantes entre homens e mulheres de algumas<br />

minorias ocupam um papel fundamental na construção das estratégias<br />

identitárias femininas, muitas vezes desenvolvidas com vista à alteração<br />

do papel subordinado da mulher. É fundamental ter em conta, porém,<br />

que, mesmo fora do contexto de imigração, as mulheres são muitas vezes<br />

reduzidas, no terreno das trocas simbólicas, a instrumentos da política<br />

masculina (Bourdieu, 1999). Enquanto o estereótipo masculino permanece<br />

representado como o principal actor num cenário de mudança<br />

social, a mulher é relegada para segundo plano nesse mesmo cenário<br />

(Amâncio, 1993). “(...) As diferenciações mais flagrantes no domínio dos<br />

modos de vida (...) reflectem os estereótipos culturais, dizem respeito às<br />

tarefas e atributos compatíveis com as representações do feminino e do<br />

masculino na sociedade contemporânea. Aos homens, a técnica, a competição,<br />

a performance, a vida política, o sindicalismo. Às mulheres,<br />

a intimidade, a vida familiar, o interior, o altruísmo, a religião, a estética,<br />

o lúdico” (traduzido de: Service des Droits de Femmes, 1995: 180).<br />

Um conhecimento mais aprofundado da especificidade do segmento<br />

feminino do conjunto de muçulmanos residentes em Portugal é, neste<br />

contexto, fundamental, na medida em que, na origem, a representação<br />

destas mulheres é muitas vezes composta por significados ainda mais<br />

Maria Abranches<br />

57

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!