PERTENÃAS FECHADAS EM ESPAÃOS ABERTOS - Acidi
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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />
cabelo fosse cumprida no ritual de nascimento do filho, afirmando ela<br />
própria o afastamento das pessoas mais jovens relativamente a tradições<br />
como esta:<br />
“Eu acho que não. Porque é a tal coisa que eu te digo, acho que<br />
isso é uma coisa… Eu tenho fé, estás a perceber Eu, se tiver um<br />
filho, um dia vou agradecer a Deus à minha maneira por ter tido,<br />
mas isso não. Por exemplo, aos meus sobrinhos nós já não<br />
fizemos, que o meu cunhado diz: «Vocês estão a gozar Acham que<br />
vamos rapar a cabeça ao bebé»” (Hana, 23 anos, origem indiana)<br />
“O que eles fazem, praticamente, é cortar o cabelo à pessoa.<br />
Tanto que eu disse, na altura, assim: «Não tira o cabelo todo ao<br />
meu filho», que ele tinha uma grande cabeleira. Ele foi baptizado<br />
aos 24 dias, mas normalmente é uma semana depois. Só que nós<br />
não fizemos, também como eu tinha feito cesariana, acho que<br />
depois o pai dele não estava… Porque eles normalmente dizem<br />
que se não baptizar não posso ir para a rua, embora nós saímos,<br />
né Sabes que... pronto, nós já somos... É mesmo daquelas<br />
coisas, a tradição já está acabando, né” (Diminga, 25 anos,<br />
origem guineense, mãe de uma criança de 2 anos)<br />
As origens étnicas dos pais têm obviamente um papel fundamental nas<br />
práticas culturais. Tchambu, porque viveu na Guiné apenas com a mãe, de<br />
etnia papel e religião católica, não comemorou o sétimo dia após o<br />
nascimento, tendo-lhe sido realizada uma cerimónia, adaptada à sua<br />
idade já adulta, pelos familiares muçulmanos, da parte do pai, com quem<br />
veio viver em Portugal. Fatimah, por seu lado, não realizou o ritual no<br />
nascimento das duas filhas do primeiro casamento com um não<br />
muçulmano que, embora convertido, não praticava a religião.<br />
“Quando cheguei, fui viver para casa da minha tia e, na altura,<br />
ainda não tinha sido baptizada. Depois fui logo baptizada, pela<br />
religião muçulmana, na mesquita. Na altura não me raparam o<br />
cabelo, pronto, porque já era uma matulona. Fizeram lá as<br />
cerimoniazitas, e pronto. Nome já tinha, né Foi a minha tia mais<br />
o meu pai que decidiram que tinha que ser. O meu pai estava lá<br />
mas, pronto, comunicava-se por telefone”. (Tchambu, 24 anos,<br />
origem guineense, chegou a Portugal em 1990, com 11 anos)<br />
Como se vê, os discursos de algumas destas jovens referem-se ao ritual<br />
como baptizado, palavra que representa o rito cristão, facto que revela a<br />
reinterpretação e adaptação de símbolos que caracteriza a reconstrução<br />
identitária:<br />
“Fizeram, sim, ao meu irmão e a mim também. É tipo baptismo,<br />
né Ao fim de uma semana, se não estou em erro, em que a<br />
Maria Abranches<br />
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