PERTENÃAS FECHADAS EM ESPAÃOS ABERTOS - Acidi
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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />
Apesar do controlo exercido face às práticas de lazer das filhas, ligadas<br />
às redes de sociabilidade que estabelecem, a maioria destas jovens de<br />
origem indiana tem mais amigos de origem portuguesa do que do próprio<br />
grupo de origem, facto que é indissociável da sua inserção escolar:<br />
“A maioria são brancos, nesta altura, e mais mulheres. São as<br />
minhas colegas de curso. Já houve uma altura que foi mais<br />
muçulmanos, mas agora não. Sabes que quando uma pessoa está<br />
a evoluir a nível intelectual, a nível profissional, as nossas<br />
conversas coincidem mais com as pessoas que estão no nosso<br />
ramo, percebes E, às vezes, parece que a maioria dos muçulmanos,<br />
das minhas amigas, parou no tempo, sabes E tu sentes<br />
que tu andaste para a frente, e elas não. Elas não estudaram,<br />
casaram, são domésticas… E, depois, que tipo de conversa, de<br />
diálogo, é que se pode ter, não é Então crias laços mais fortes<br />
com as pessoas que estão mais próximas de ti a nível profissional.<br />
Os meus melhores amigos são pessoas que estudaram comigo e<br />
pessoas da minha profissão. É o tal aspecto, parece que se pode<br />
conversar mais, não é Há mais coisas em comum”. (Latifah, 27<br />
anos, origem indiana)<br />
“Olha, a minha melhor amiga é da minha religião, mas... O meu<br />
melhor amigo também posso dizer que é da minha religião,<br />
porque é o meu irmão. Mas os amigos com quem eu convivo<br />
normalmente são pessoas que não são da minha religião, são<br />
pessoas da faculdade”. (Yasmin, 19 anos, origem indiana)<br />
“A minha melhor amiga faz parte da mesma comunidade, mas<br />
também é a única pessoa de quem eu sou realmente chegada da<br />
minha comunidade. Porque, de resto, as outras pessoas de quem<br />
eu sou muito, mas muito chegada, não são da minha comunidade,<br />
de todo. São pessoas da minha faculdade, com quem eu convivo<br />
sempre”. (Rafiah, 21 anos, origem indiana)<br />
O alargamento das redes de sociabilidade é, de resto, um elemento<br />
comum às jovens indianas e guineenses. Entre as primeiras, apenas<br />
Manar mantém amigos sobretudo intragrupo, cujas redes de amizade<br />
foram criadas na Mesquita Central de Lisboa, nomeadamente no âmbito<br />
do curso de língua árabe que frequenta. Para além deste contexto<br />
privilegiadamente intra-étnico, este facto poderá ficar a dever-se ainda ao<br />
seu abandono escolar mais precoce do que o das restantes raparigas<br />
indianas.<br />
As guineenses estabelecem ainda redes de amizade com outros africanos<br />
ou com guineenses não muçulmanos. No que diz respeito às práticas de<br />
lazer no contexto das sociabilidades em Portugal, a necessidade de<br />
Maria Abranches<br />
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