PERTENÃAS FECHADAS EM ESPAÃOS ABERTOS - Acidi
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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />
qual consiste na preparação e cortejo da noiva e no culminar da festa em<br />
casa do pai desta (Quintino, 2004). No caso de Aisatu, a festa decorrerá<br />
em casa da irmã mais velha, devido à ausência do pai, já falecido. A<br />
cerimónia religiosa pode coincidir com o ritual de amarramento e ser<br />
realizada pelo Imam em casa do pai da noiva, embora no casamento de<br />
Aisatu, as duas festas tenham sido separadas e a primeira realizada na<br />
mesquita. A minha presença nesta primeira cerimónia religiosa foi mais<br />
um momento privilegiado da investigação:<br />
“A cerimónia religiosa do casamento de Aisatu, na Mesquita<br />
Central de Lisboa, difere, em vários aspectos, do casamento de<br />
Zayba. Com cerca de 50 convidados, homens e mulheres juntamse<br />
na mesma sala e os noivos casam-se em presença um do<br />
outro 21 . Dos convidados, apenas algumas mulheres mais velhas<br />
trazem os vestidos tradicionais e os lenços coloridos amarrados<br />
na cabeça. As restantes vestem-se de forma ocidental, e as mais<br />
jovens usam mesmo vestidos justos e decotados, pretos ou<br />
vermelhos, complementados com sapatos de salto alto. Também<br />
são poucos os homens que vestem os trajes tradicionais<br />
muçulmanos, estando a maioria deles dividida entre os que usam<br />
fato e gravata e os que se encontram vestidos de forma ocasional,<br />
de jeans e t-shirt.<br />
Faz parte da cerimónia a pergunta dirigida pelo Imam à noiva,<br />
relativamente ao dote 22 , sendo dada a esta a opção de perdoar ou<br />
estipular um dote. À resposta da noiva “quero perdoar”, ouve-se<br />
um “ufa, já se safou” em tom de brincadeira, pelo Imam, Sheikh<br />
Munir. As amigas de Aisatu explicam-me ter-se mantido em<br />
Portugal a tradição de fazer a pergunta, à qual a resposta vai sempre<br />
no sentido de perdoar”. (Excerto do diário de campo,<br />
Setembro de 2003)<br />
A festa que se realiza após uma semana da data da cerimónia de<br />
amarramento é a última etapa do rito nupcial guineense. A organização<br />
da festa é da responsabilidade das mulheres, sendo estas que, cedo,<br />
21. De acordo com informações fornecidas pelo Imam da Mesquita Central de Lisboa,<br />
cabe aos próprios noivos optar pelo casamento presencial ou separado, não existindo<br />
uma obrigação religiosa em nenhum desses sentidos.<br />
22. Tradicionalmente, o dote representava uma compensação dada aos pais da noiva<br />
pela perda da filha, que passa a pertencer à família do homem. Tendo-se, mais tarde,<br />
transformado num presente para a noiva, sob a forma de ouro ou dinheiro (Weibel, 2000),<br />
o dote fixa às mulheres o seu estatuto social de objectos de troca, de acordo com os<br />
interesses masculinos, com o objectivo de contribuir para a reprodução do capital<br />
simbólico dos homens (Bourdieu, 1999).<br />
Maria Abranches<br />
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