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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

do que pelos rapazes. Então, tipo, vêem uma rapariga, gostavam<br />

imenso que essa rapariga desse a oportunidade de começar a<br />

falar com o rapaz, para ver se até lhe acha piada e ele lhe acha<br />

piada. Então eles tentam aproximar-se da família”. (Rafiah, 21<br />

anos, origem indiana)<br />

Enquanto o casamento civil é uma formalidade só em alguns casos cumprida,<br />

à qual não é atribuída qualquer importância por parte das mulheres<br />

de ambos os grupos, a festa, por seu lado, pode durar vários dias, variando<br />

as formas de celebração de acordo com as tradições locais de origem ou<br />

o estatuto social da família. A experiência migratória tende, porém, a gerar<br />

algumas alterações também nas modalidades de casamento. Embora,<br />

entre estas mulheres muçulmanas, o casamento tradicional – que<br />

consiste num tipo de casamento reconhecido oficialmente pela religião,<br />

mas não legalmente – mantenha geralmente uma forte importância, sabese<br />

que, regra geral, este tipo de casamento decresce com a migração,<br />

sendo, muitas vezes, substituído pelos casamentos pelo registo, dadas as<br />

dificuldades de transposição das condições de realização do rito<br />

tradicional para a sociedade receptora (Machado, 2002).<br />

Enquanto o casamento católico, na sociedade portuguesa, não significa<br />

necessariamente convicções religiosas profundas da parte de quem o<br />

contrai (Torres, 1996), o casamento tradicional muçulmano mantém-se<br />

associado a uma crença religiosa mais forte. No entanto, as razões de<br />

carácter ritualista e de pressão familiar e social que justificam, muitas<br />

vezes, a perpetuação dos casamentos católicos em Portugal, também se<br />

encontram presentes nestas jovens, como exemplifica o caso de Diminga,<br />

casada há sete anos pela cerimónia muçulmana, por influência dos pais:<br />

“É assim, casei pela cerimónia muçulmana, mas através também<br />

dos meus pais, né Como eles são guineenses, são os dois<br />

muçulmanos, casei através disso, casei através da tradição deles.<br />

Foi mais por causa deles, porque se não fosse, eu não fazia. (...)<br />

A minha mãe dizia sempre: «Já sabes que as amigas depois<br />

falam…». Mas, na altura, só queria era juntar mesmo. Depois,<br />

pronto, casei-me”. (Diminga, 25 anos, origem guineense, filha de<br />

Mariatu)<br />

Entre as entrevistadas, todas as que se casaram realizaram a cerimónia<br />

tradicional. O casamento de Zayba, por exemplo, realizou-se na Mesquita<br />

Central de Lisboa 18 , após uma semana de celebrações entre os<br />

18. O casamento muçulmano pode, contudo, ser realizado em espaços privados não<br />

religiosos, desde que conte com a presença de um Imam para a condução da cerimónia.<br />

Maria Abranches<br />

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