PERTENÃAS FECHADAS EM ESPAÃOS ABERTOS - Acidi
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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />
5. EL<strong>EM</strong>ENTOS DE IDENTIFICAÇÃO CULTURAL:<br />
FORMAS DE ADAPTAÇÃO ENTRE DUAS REFERÊNCIAS<br />
5.1. Diversidade e Especificidade dos Territórios Linguísticos<br />
Entre os traços culturais que distinguem muitas minorias étnicas em<br />
contexto migratório, a língua representa um elemento central. Em primeiro<br />
lugar, as dificuldades muitas vezes sentidas com a língua do país<br />
receptor dificultam a inserção profissional dos imigrantes ou o sucesso<br />
escolar dos seus filhos, constituindo, por isso, um obstáculo à integração<br />
social. Por outro lado, as línguas de origem são o primeiro elemento a ser<br />
posto em causa com a migração, na medida em que os descendentes dos<br />
imigrantes exprimem-se geralmente na língua do país de acolhimento<br />
com maior facilidade, sobretudo quando aquelas faladas pelos pais não<br />
são oficiais nem escritas (Machado, 2002).<br />
A este nível, há divergências fulcrais entre as duas populações em análise,<br />
que decorrem dos diferentes contextos dos próprios países de<br />
origem, embora a diversidade linguística constitua um padrão comum.<br />
Enquanto na Guiné-Bissau o português tem fraca expressão como língua<br />
corrente, em Moçambique, de onde é oriunda grande parte da população<br />
de origem indiana residente em Portugal, a implantação do português foi<br />
mais forte e esta tornou-se a língua mais falada. Contudo, a maioria da<br />
população muçulmana em Moçambique singulariza-se pela sua origem<br />
indiana, que ganha significado também no plano linguístico. Assim, para<br />
além do português, as línguas indianas 27 eram as mais utilizadas entre<br />
estas mulheres, sendo mais rara a utilização de línguas tradicionais<br />
moçambicanas no país de origem. Apenas Fatimah e Fariah, assim como<br />
os pais de Hana, utilizavam essas línguas nos seus círculos de socialização<br />
em Moçambique, facto que se liga à identificação étnica e<br />
nacionalidade. Com efeito, as três, tendo nacionalidade moçambicana,<br />
afirmam autoidentificar-se como moçambicanas, embora o caso de Hana<br />
se particularize pela dupla referência moçambicana e portuguesa, dado<br />
que veio para Portugal apenas com dois anos de idade:<br />
“A minha mãe falava landim, é um dialecto lá de Moçambique,<br />
mas eu não sei falar fluentemente. Mesmo que estejam a falar<br />
perto de mim há coisas que eu não consigo apanhar, mas há lá<br />
coisas que eu consigo falar e que consigo perceber perfeitamente.<br />
Em casa falávamos português”. (Hana, 23 anos, origem indiana,<br />
chegou a Portugal em 1982, com 2 anos)<br />
27. Ente as línguas de origem indiana e paquistanesa salientam-se o meman, o urdu,<br />
o gujarati e o hindi.<br />
Maria Abranches<br />
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