PERTENÃAS FECHADAS EM ESPAÃOS ABERTOS - Acidi
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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />
familiares. Estas celebrações são, por sua vez, divididas por sexo,<br />
verificando-se uma separação entre os dias festejados pelos homens e<br />
pelas mulheres:<br />
“No meu caso, no domingo tenho uma missa que é lá na mesquita,<br />
pronto, que é para o casamento. É só para as mulheres,<br />
elas vão lá rezar. E, nesse dia, é quando a minha sogra dá-me as<br />
prendas de casamento, e a minha mãe dá para ela, para o meu<br />
noivo, para a família dela. E, depois, na quinta-feira, tenho a festa<br />
que é para pintar as mãos, que vão-me pintar as mãos e os pés<br />
com henna. E na quarta-feira é do meu noivo, não lhe vão pintar<br />
as mãos, mas é, tipo, fazer uma festa. E, depois, sábado é o casamento.<br />
Quer dizer, acaba por ser uma semana porque, às vezes,<br />
há familiares que vêm de fora”. (Zayba, 23 anos, origem indiana)<br />
O convite para assistir ao casamento de Zayba, na Mesquita Central de<br />
Lisboa, foi aceite por mim, com entusiasmo:<br />
“No dia do casamento, às seis da tarde, as mulheres juntam-se do<br />
lado de fora da porta traseira da mesquita, aguardando a chegada<br />
da noiva. Esta chega pouco depois, de vestido e véu brancos,<br />
tipicamente ocidentais. A madrinha de casamento e as restantes<br />
mulheres convidadas trazem vestidos tradicionais indianos, de<br />
resto, a única ocasião em que as mais jovens os vestem. De facto,<br />
embora muitas vezes estas jovens procurem escapar às normas<br />
impostas no que diz respeito ao vestuário quotidiano, a forma<br />
como se entusiasmam com a compra de vestuário indiano para as<br />
festas de casamento exemplifica a coexistência simbólica constante<br />
de códigos culturais distintos. Latifah revela, aliás, o facto de<br />
a mãe e uma irmã terem ido propositadamente a Londres comprar<br />
os vestidos para grande parte das mulheres da família<br />
usarem na festa. Descreve, entusiasmada, a enorme quantidade e<br />
variedade de vestuário indiano que se pode encontrar à venda<br />
naquele país, que em nada se compara à oferta existente em<br />
Portugal. Os lenços compridos que cobrem os ombros das<br />
convidadas contrastam com os cabelos geralmente compridos e<br />
soltos, entre as mais jovens, enquanto a maioria das mulheres<br />
mais velhas cobre o cabelo com o lenço.<br />
Após a chegada da noiva, as mulheres entram finalmente para a<br />
mesquita, no interior da qual os homens já se encontravam com o<br />
noivo, no andar de cima, sendo a divisão do espaço claramente<br />
visível. Enquanto o noivo permanece com os convidados do sexo<br />
masculino e faz, em presença do Imam, as respectivas orações<br />
relativas ao momento do matrimónio, a noiva e as mulheres<br />
convidadas aguardam, na sala de baixo, que se finalize o ritual<br />
Maria Abranches<br />
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