PERTENÃAS FECHADAS EM ESPAÃOS ABERTOS - Acidi
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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />
voltas de lá tens que cumprir, é por isso que uma pessoa, quando<br />
é jovem, evita mesmo ir. É para ir mais tarde”. (Aisatu, 23 anos,<br />
origem guineense)<br />
“Gostava de ir a Meca, mas não é agora, não. Sou muito nova. Não,<br />
mais tarde, lá para os 50 e tal. A razão porque eu não vou... Agora<br />
não vou cumprir tudo como a regra de ir a Meca. E também<br />
porque fazer uma coisa e depois ficar mal vista às pessoas, tornar<br />
na mesma que saí, eu não gosto. Se fosse a Meca tinha de deixar<br />
muita coisa, por exemplo essas festas. Eu gosto de ir à discoteca,<br />
gosto muito. Costumo sair à noite. O problema é isso. Já com a ida<br />
a Meca tem que ficar assim mais tímida, e cumprir as coisas, né<br />
Agora não dá para mim”. (Fulé, 44 anos, origem guineense)<br />
A diferença entre o significado atribuído à peregrinação pelas mulheres<br />
guineenses e indianas é, a este nível, notória. Geralmente detentoras de<br />
maiores recursos económicos, as segundas, tanto as mais velhas como<br />
as mais jovens, já fizeram, em maior número do que as primeiras, a peregrinação<br />
obrigatória. Naniampe, de 53 anos, é, aliás, a única guineense a<br />
ter participado no Hajj. Do mesmo modo, as indianas não atribuem o<br />
mesmo valor simbólico ao cumprimento deste pilar da religião, acabando<br />
por não alterar os seus comportamentos após o regresso de Meca, ao<br />
contrário de Naniampe, que declara cumprir actualmente todas as<br />
obrigações religiosas. Inas, uma das jovens indianas que ainda não<br />
participou no Hajj, é a única deste grupo que menciona a necessidade de<br />
cumprir essas obrigações e que revela o desejo de o vir a fazer mais<br />
tarde:<br />
“Ir a Meca faz parte. Mas é assim, ultimamente tem sido<br />
banalizado, tipo, quase que vão de férias para ir lá a Meca. Mas<br />
pronto, da educação que eu tenho, quando for lá a Meca há muita<br />
coisa que terei que mudar quando voltar. Por exemplo, quero<br />
começar a fazer as cinco orações, percebes Porque aquilo é,<br />
tipo, a purificação, é achares que já chegaste mesmo a um nível<br />
de... E como eu ainda não estou preparada, queria fazer só, tipo,<br />
lá para os… Pronto, quando tu achas que já não tens assim<br />
brincadeiras extras a fazer. Mas é uma das coisas que faz parte<br />
dos meus planos”. (Inas, 27 anos, origem indiana)<br />
Por outro lado, verifica-se também, entre as mulheres indianas que<br />
participaram na peregrinação, uma reconstrução e adaptação do<br />
significado desse acto, que constitui igualmente um momento de convívio<br />
com os amigos ou uma oportunidade para ir às compras:<br />
“A peregrinação a Meca já fiz. Já fiz também a que não é<br />
obrigatória, o Umra... Essa já fiz, graças a Deus, para aí umas seis<br />
Maria Abranches<br />
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