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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

claro que eu segui mesmo. Pronto, namorava com ele, e tudo,<br />

mas era tudo muito...” (Zayba, 23 anos, origem indiana, noiva de<br />

um jovem indiano muçulmano)<br />

“Isso ainda se mantém. Isso não se fala directamente, percebes<br />

É, tipo, um dado adquirido, praticamente. Pá, mesmo! Por exemplo,<br />

eu tinha essa noção, do género, nem eu queria fazer sem ser<br />

com o meu marido, percebes Até porque acho que era uma coisa<br />

que devia, se calhar, guardar”. (Inas, 27 anos, origem indiana,<br />

casada há 5 anos com um jovem indiano muçulmano)<br />

De entre as oito raparigas indianas entrevistadas, apenas Hana afirma<br />

claramente não concordar com a virgindade até ao casamento, sendo ela<br />

a que mais se afastou das práticas e representações religiosas após a<br />

morte da mãe. Rafiah, por seu lado, diz não concordar totalmente com a<br />

imposição dessa regra, considerando a sexualidade como um aspecto<br />

pessoal, que não deve ser objecto de normas sociais:<br />

“É uma comunidade fechada, a mentalidade é super antiquada e<br />

as pessoas são super reservadas, não lhes cabe pela cabeça<br />

nunca, nunca, nunca, uma rapariga não ser virgem. Eu não penso<br />

que os meus pais pensem nisso, sequer. Partem do pressuposto<br />

que tu, pá, nunca entrarias por esse campo, percebes (...) Não<br />

acredito que as pessoas devam ser castigadas por não serem,<br />

isso não concordo. Acho que é uma coisa que é própria”. (Rafiah,<br />

21 anos, origem indiana, não namora actualmente)<br />

“Ó pá, antigamente isso era uma coisa super importante. Para a<br />

minha mãe era, estás a perceber (...) Ó pá, hoje em dia tu achas<br />

que alguém liga a isso Eu não, pá, eu digo-te mesmo, acho que<br />

isso são daquelas coisas mesmo absurdas, estás a perceber (...)<br />

Para mim isso é daquelas coisas que não faz sentido nenhum”.<br />

(Hana, 23 anos, origem indiana, não namora actualmente)<br />

As jovens guineenses, por sua vez, sobre as quais os pais não exercem o<br />

mesmo tipo de controlo no que diz respeito à sexualidade, afirmam não<br />

atribuir uma importância de carácter normativo e religioso à virgindade<br />

antes do casamento:<br />

“Pronto, eu até agora sou virgem. Mas eu acho que não é uma<br />

coisa que eu pus na minha cabeça que tenho que me casar<br />

virgem, não. Eu pus na minha cabeça que eu tenho que perder a<br />

minha virgindade com alguém que eu goste, com alguém que eu<br />

queira. A minha mãe também pensa a mesma coisa. Já o meu pai<br />

não sei a opinião dele. (...) Não é um pecado. Inclusive, na nossa<br />

religião muçulmana já não existe aquela coisa tão perfeita como<br />

existia dantes, em que as pessoas se casavam virgens. Tenho<br />

Maria Abranches<br />

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