PERTENÃAS FECHADAS EM ESPAÃOS ABERTOS - Acidi
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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />
menos entre populações de peso tradicional forte e maior fechamento<br />
relacional).<br />
“Já quis ser muita coisa. Quando estava no 10.º ano queria ser<br />
hospedeira. Mas não tem um curso superior para hospedeira, e o<br />
meu pai sempre me disse: «Olha, eu acho que devias fazer um<br />
curso superior. Um dia qualquer vais ter que parar de fazer aquele<br />
trabalho, não tens um curso superior que te ajude, ou coisa<br />
parecida». E, pronto, eu lá respeitei e penso optar pelo Direito. Eu<br />
adoro, é uma coisa que eu sempre, desde criança, gostava”.<br />
(Kumbá, 19 anos, origem guineense)<br />
Diminga, filha de Mariatu, desistiu de estudar após o casamento, embora<br />
refira não ter sido por influência do cônjuge. Motivos de doença contribuíram,<br />
em grande parte, para o abandono escolar. Fatumata e Aisatu,<br />
de 21 e 23 anos e com o 10.º e o 12.º anos completos na Guiné, respectivamente,<br />
pretendem ainda vir a prosseguir os estudos em Portugal.<br />
A primeira, chegada muito recentemente, ainda não tem qualquer<br />
ocupação em Portugal, tendo como objectivo vir a exercer uma actividade<br />
profissional em informática, área em que gostaria de aprofundar os<br />
estudos. Todavia, tendo imigrado para se juntar ao cônjuge, o que a<br />
aproxima das circunstâncias em que as mulheres mais velhas imigraram,<br />
menciona a dificuldade demonstrada pelo marido em aceitar a<br />
possibilidade da própria estudar em Portugal, o que não acontecia na<br />
Guiné. Aisatu, pelo contrário, não sente qualquer imposição por parte do<br />
noivo, não tendo ainda prosseguidos os estudos apenas pela necessidade<br />
prioritária de juntar algum dinheiro.<br />
3.4. Trajectórias Socioprofissionais:<br />
Estratégias Femininas de Inserção no Mercado de Trabalho<br />
Tal como o prolongamento dos estudos das mulheres muçulmanas ou<br />
das suas filhas pode representar uma estratégia de autonomização e<br />
realização pessoal, o exercício de uma actividade profissional representa<br />
uma passagem do espaço privado para o espaço público que muitas vezes<br />
não acontecia no país de origem. As múltiplas interacções exigem um<br />
esforço de articulação de diversos elementos, mas o encontro com a<br />
sociedade ocidental abre, para algumas destas mulheres, novas perspectivas<br />
de evolução da sua condição (Beski, 1997).<br />
Analisando as trajectórias profissionais das mulheres muçulmanas mais<br />
velhas (ver quadro 6), verifica-se que, no país de origem, de facto,<br />
algumas não exerciam actividade profissional ou apenas prestavam apoio<br />
Maria Abranches<br />
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