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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

além de ser uma presença mais antiga no nosso país, as razões de ordem<br />

política que motivaram, em grande número, a saída desta população de<br />

Moçambique para Portugal, atribuem-lhe muitas vezes um carácter mais<br />

familiar, em que casais com filhos, e até outros familiares, migraram<br />

juntos.<br />

De acordo com o mesmo inquérito aos guineenses de 1995, são os<br />

muçulmanos os que, quando comparados com outros guineenses, têm as<br />

mulheres e os filhos em Portugal em menor número, e quem menos<br />

manifesta a intenção que estes venham para Portugal. Embora o<br />

prolongamento do tempo de residência possa levar a uma alteração<br />

dessa opção (a maioria das guineenses entrevistadas vieram juntar-se<br />

aos cônjuges, residentes há vários anos em Portugal), a intenção de uma<br />

estadia temporária e do regresso ao país de origem é mais visível entre<br />

estes homens, pelo menos numa primeira fase dos seus ciclos<br />

migratórios. Esta decisão liga-se igualmente aos movimentos frequentes<br />

entre o país de origem e de destino que caracterizam alguns<br />

muçulmanos, devido às redes comerciais que, por vezes, estabelecem<br />

entre os dois países (Machado, 2002). Como veremos no próximo capítulo,<br />

as mulheres guineenses de religião muçulmana manifestam, pelo contrário,<br />

uma intenção menos firme de regresso.<br />

A existência de filhos nascidos no país de acolhimento é, por sua vez, mais<br />

visível entre a população indiana do que entre os guineenses, reflectindo<br />

o maior tempo de residência dessa população. Por outro lado, sabe-se<br />

que a taxa de natalidade das populações migrantes em geral é menor do<br />

que a verificada nos respectivos países de origem, e que tende a diminuir<br />

com o prolongamento do tempo de residência, embora a média se mantenha<br />

globalmente mais elevada do que a média da taxa de natalidade<br />

portuguesa (Machado, 2002).<br />

Para além das estruturas familiares, elementos como a origem rural ou<br />

urbana e o próprio contexto económico e social da sociedade de acolhimento<br />

contribuem igualmente para o desenvolvimento de diferentes<br />

estratégias ou, até mesmo, para a decisão de emigrar, por parte das<br />

mulheres (Oso e Catarino, 1997). Neste sentido, a origem das mulheres<br />

que emigram sozinhas é maioritariamente urbana e proveniente das<br />

camadas mais escolarizadas, na medida em que, nos meios rurais, estão<br />

mais limitadas ao espaço privado. Por outro lado, as imigrantes de origem<br />

rural manifestam, muitas vezes, maior preferência por alguns traços<br />

socioculturais da nova sociedade onde se inserem, mesmo que a migração<br />

tenha tido como objectivo primeiro juntar-se ao marido. Como será<br />

possível verificar ao longo deste trabalho, a imigração acaba por contribuir,<br />

Maria Abranches<br />

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