PERTENÃAS FECHADAS EM ESPAÃOS ABERTOS - Acidi
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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />
A minha mãe muito menos. Portanto, eles são uns pais liberais”.<br />
(Kumbá, 19 anos, origem guineense)<br />
De resto, tendo o trabalho de campo decorrido num Verão em que o calor<br />
se fazia sentir de forma excessiva, todas elas se apresentaram de saias<br />
curtas e blusas decotadas. Apenas Aisatu salienta, na entrevista, que<br />
decorreu pouco antes de se casar, o facto de dever passar a usar o<br />
vestuário tradicional em determinadas ocasiões e vestir-se de forma mais<br />
discreta no dia-a-dia após o casamento, preocupação que não tem<br />
enquanto solteira:<br />
“O meu noivo foi fazer compras de roupas muçulmanas porque, à<br />
partida, quando vais casar és considerada uma pessoa já com<br />
responsabilidade, vais deixar de ser infância, vais deixar de usar<br />
as coisas que na juventude podias usar, vais ser mais discreta,<br />
tens que usar mais as coisas com respeito. Tens que comprar<br />
aquelas roupas mesmo típicas muçulmanas, aqueles panos<br />
largos, lenço na cabeça, tenho aí tudo. Quando houver uma coisa<br />
eu tenho que ir mesmo já com responsabilidade, porque eu tenho<br />
marido, já é diferente da vida de solteiro”. (Aisatu, 23 anos, origem<br />
guineense)<br />
Entre a maioria das guineenses mais velhas, tal como entre a maioria das<br />
indianas da mesma idade, é visível a coexistência entre o vestuário<br />
tradicional e ocidental, adaptando também elas as suas práticas e<br />
representações identitárias a este respeito, em contexto migratório.<br />
Apenas Kulumba e Naniampe afirmam usar sobretudo os trajes<br />
tradicionais, a primeira por passar o seu quotidiano na mesquita, onde<br />
trabalha o cônjuge (embora fora do espaço sagrado use roupa ocidental),<br />
e a segunda por ter já participado na peregrinação a Meca. A situação de<br />
Naniampe é, aliás, comparável à de Leila, de origem indiana, cuja peregrinação<br />
foi, como referido no ponto anterior, motivo de alteração dos<br />
hábitos de vestuário. Maimuna, por seu lado, confirma o que descreve<br />
Aisatu relativamente à necessidade de passar a ter um maior cuidado<br />
com a indumentária após o casamento, embora confesse nem sempre o<br />
fazer, por apreciar a roupa ocidental. Também Mariatu faz referência a<br />
uma maior preocupação com o vestuário que normalmente acontece a<br />
partir de uma certa idade:<br />
“As mulheres muçulmanas, normalmente, não devem deixar o<br />
cabelo solto, só que hoje em dia, como se vê, cada um faz como<br />
quer. Mesmo na Guiné também é assim, andamos assim. Há os<br />
que não deixam mesmo o cabelo solto, tapam tudo até aqui, mas<br />
há menos na Guiné isso do que nos países árabes. Fazem os<br />
possíveis por tapar o cabelo... as partes que atraem mais os<br />
Maria Abranches<br />
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