PERTENÃAS FECHADAS EM ESPAÃOS ABERTOS - Acidi
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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />
6. SOCIABILIDADES: SENTIDOS E SIGNIFICADOS<br />
6.1. Círculos de Amizade e Relações Familiares:<br />
Formas de Negociação entre “Abertura e Fechamento”<br />
A importância central das sociabilidades nos processos de construção<br />
identitária, referida no capítulo 1, liga-se, em contexto migratório, à<br />
influência das redes de relações sociais sobre as pertenças e referências<br />
culturais dos grupos de imigrantes. Envolvendo diversos actores e<br />
conteúdos, “quanto mais as sociabilidades forem orientadas para dentro,<br />
maiores tenderão a ser os contrastes culturais, ao passo que a existência<br />
de redes de sociabilidade extragrupo fortes gera continuidades culturais,<br />
promovendo, por essa via, a integração na sociedade envolvente”<br />
(Machado, 2002: 219).<br />
Tal como foi sendo demonstrado ao longo deste trabalho, há uma<br />
diferença significativa entre as redes estabelecidas pelas mulheres<br />
indianas e guineenses mais velhas, mais fechadas e circunscritas aos coétnicos,<br />
e as mais novas que, apresentando uma identificação mais forte<br />
com os modos de vida encontrados em Portugal, estabelecem redes mais<br />
alargadas e exteriores ao grupo, influenciando de diferente maneira as<br />
estratégias de (re)construção identitária. Por outro lado, os círculos de<br />
amizade em que se envolvem estas jovens não se encontram livres do<br />
controlo familiar e social, sendo, portanto, um lugar privilegiado para a<br />
observação dos processos de negociação identitária. A este respeito, o<br />
controlo das práticas de sociabilidade das jovens por parte da família<br />
apresenta, uma vez mais, maior visibilidade entre a população de origem<br />
indiana, sujeita a um controlo social globalmente mais apertado. De facto,<br />
são as jovens indianas que, com mais frequência, ocultam dos pais as<br />
suas amizades do sexo masculino, por exemplo, ou evitam mesmo<br />
estabelecê-las:<br />
“Eu nunca, nunca dizia se ia sair com rapazes. Era sempre com<br />
amigas e, às vezes, inventávamos trabalhos de grupo, ou assim.<br />
(…) Ele nunca viu porque eu também tinha o cuidado, não é<br />
Porque fiquei a pensar… Tenho que dar graças a Deus, porque sou<br />
de uma família tradicional, super tradicional, e foi-me dada a<br />
oportunidade de estudar, de ser alguém, de ser independente, não<br />
é E eu evitava a todo o custo arranjar problemas, sabes”<br />
(Latifah, 27 anos, origem indiana)<br />
“Era complicado. Tipo, na escola, os trabalhos de grupo... Tipo, ter<br />
rapazes no grupo... eu não podia trazer rapazes cá para casa.<br />
Então tentava sempre que o meu grupo fossem raparigas, mas às<br />
vezes é complicado. (...) Tipo, as saídas, e tudo. Nunca saí assim<br />
Maria Abranches<br />
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