PERTENÃAS FECHADAS EM ESPAÃOS ABERTOS - Acidi
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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />
fundar o estudo do Alcorão, quer na Ilha de Moçambique, quer em<br />
Porbander, na Índia, onde permaneceu dois anos e aprendeu adicionalmente<br />
a língua da região, o gujarati, por desejo do pai.<br />
A passagem pela Alemanha de duas mulheres guineenses recém-<br />
-chegadas, no seu percurso migratório para Portugal, é outro aspecto a<br />
mencionar. A exposição de Hannover, na Alemanha, em 2000, acolheu,<br />
assim, Nafanta e Naniampe, que aí exibiram os produtos das suas<br />
actividades tradicionais, tendo a primeira participado enquanto membro<br />
da Associação Guineense de Pequenos Comerciantes (AGUIPEC) e a<br />
segunda representado as vendedoras de peixe, através da Associação de<br />
Mulheres Vendedoras de Peixe da Guiné. Esta passagem pela Alemanha<br />
contribuiu para um momento de autonomização destas mulheres, que<br />
falam com orgulho da experiência.<br />
As primeiras dificuldades sentidas em Portugal pelas mulheres de<br />
origem indiana e guineense devem-se essencialmente às necessidades<br />
económicas iniciais, assim como à falta da família e consequente<br />
sentimento de solidão. As que não vieram em reagrupamento familiar,<br />
mas migraram juntamente com o cônjuge, salientam a ajuda prestada<br />
por familiares e por outras pessoas da mesma origem, já residentes em<br />
Portugal:<br />
“Pronto, nós quando chegámos aqui foi começar a trabalhar,<br />
porque sentados não podíamos estar. Estávamos a pensar em<br />
abrir uma empresa, assim uma coisita pequena. E as pessoas da<br />
nossa comunidade sempre nos deram uma mãozinha. No mesmo<br />
prédio onde a gente morava tinha uma tia minha que já cá estava.<br />
E, pronto, ela sempre… Ela é minha tia, deu-nos muita ajuda”.<br />
(Raja, 49 anos, origem indiana, em Portugal desde 1981)<br />
“Quando cheguei eu senti a falta mesmo da minha mãe, das<br />
minhas filhas, dos familiares... E da terra também, não é Mas<br />
depois fui-me habituando, fui criando amizades. (…) Eu quando<br />
cheguei cá, realmente, naqueles anos, havia pouca gente<br />
muçulmana e eu sentia um bocadinho, porque eu já estava<br />
habituada... Lá a vizinhança era toda muçulmana e, depois, havia<br />
dias que a gente se junta, vai para a mesquita entre senhoras, e<br />
tudo, e aqui ainda não havia essas possibilidades. Mas as coisas<br />
foram mudando, começou a chegar muita gente que vem de<br />
Moçambique e de outros países muçulmanos. Depois começou a<br />
haver esta mesquita e, depois, em cada bairro já há uma mesquita<br />
assim provisória. (Fatimah, 58 anos, origem indiana, em Portugal<br />
desde 1977)<br />
Maria Abranches<br />
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