PERTENÃAS FECHADAS EM ESPAÃOS ABERTOS - Acidi
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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />
1.3. Efeitos de Género nos Fenómenos Migratórios<br />
A dinâmica das sociedades humanas e a mobilidade que progressivamente<br />
as caracteriza, através de uma série de movimentações de<br />
carácter social e de alterações nas inserções espaciais, leva-nos a perceber<br />
o fenómeno das migrações como um processo social. Com um<br />
impacte cada vez mais visível nas sociedades actuais, em Portugal a imigração<br />
é mais recente e apresenta números mais reduzidos do que na<br />
generalidade dos países da União Europeia 5 .<br />
A escassez de estudos relativos à posição da mulher nos movimentos<br />
migratórios deve-se essencialmente à especificidade que tem<br />
caracterizado as suas formas de migração. Na medida em que os primeiros<br />
movimentos migratórios de grande parte destas mulheres surgiram<br />
na sequência da emigração dos maridos, elas permaneceram, numa<br />
primeira fase da sua estadia na sociedade receptora, limitadas ao espaço<br />
doméstico. O debate público sobre imigração tem sido, por isso,<br />
caracterizado por uma invisibilidade, que importa combater, do papel das<br />
mulheres migrantes nestes processos, o qual tem sido limitado à figura<br />
das esposas que vão juntar-se aos maridos (Françoise Gaspard in Tavares<br />
e outros, 1998). “Nos estudos dos processos e políticas migratórios, a<br />
pouca atenção que lhes é dada enquadra-se normalmente nas políticas de<br />
reunificação familiar e nas análises comparativas da fertilidade das<br />
populações. A própria legislação da União Europeia relativamente à livre<br />
circulação de pessoas ainda se baseia no modelo dominante do provedor<br />
masculino, tornando-se as mulheres actores passivos e invisíveis do<br />
processo migratório. Neste contexto, as mulheres migrantes não são<br />
consideradas como sujeitos autónomos, ou como suscitando problemas<br />
específicos de integração” (Teresa Tavares in Tavares e outros, 1998: 5-6).<br />
Apesar de o fenómeno de reagrupamento familiar – ligado à sedentarização<br />
da imigração – constituir um dos aspectos que tem, entretanto,<br />
vindo a suscitar algum interesse pela situação das mulheres imigrantes,<br />
verifica-se a emergência de novos modelos de reunificação familiar,<br />
associados a redes de mulheres imigrantes formadas por mães, irmãs e<br />
primas, em que, ao contrário dos modelos tradicionais, são as mulheres<br />
as primeiras a deixar o país de origem, seguidas então pelos maridos ou<br />
outros familiares (Virgínia Ferreira e Teresa Tavares in Tavares e outros,<br />
1998). Tem sido, portanto, ignorada uma outra parte igualmente<br />
5. De entre a já considerável bibliografia existente a respeito da imigração em Portugal,<br />
ver os trabalhos recentes de Machado (2002 e 2003) e Pena Pires (2000, 2002 e 2003).<br />
Maria Abranches<br />
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