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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

Musuba e Fulé são, por sua vez, as mulheres guineenses que se inserem<br />

num círculo de relações sociais mais alargado. Para isso contribuem<br />

também outros factores. No caso da primeira, as relações de vizinhança,<br />

num contexto residencial com população de diversas origens, quer<br />

portuguesa, quer de outros países africanos e, no caso da segunda, a<br />

influência da mãe, de religião e etnia diferentes:<br />

“Eu aqui em Chelas tenho mais portugueses e outros africanos<br />

que guineenses”. (Musuba, 69 anos, origem guineense)<br />

“Tenho, porque a minha mãe é católica. Para além da minha mãe<br />

ser católica, para mim essas coisas não tem nada a ver. Somos<br />

guineenses, somos seres humanos, para que é que ia distinguir”.<br />

(Fulé, 44 anos, origem guineense)<br />

6.2. Redes de Vizinhança e Percepções de Racismo<br />

As redes de sociabilidade constituem, como referido no capítulo 3, um dos<br />

factores que influencia as estratégias residenciais. Quer essas<br />

estratégias vão no sentido da proximidade, quer do afastamento intraétnico,<br />

a presença de vizinhos de origem portuguesa é significativa, e, na<br />

percepção da maioria destas mulheres, não se traduz em atitudes de discriminação<br />

racial:<br />

“Aqui nesse bairro... As pessoas aqui respeitam-me muito, muito,<br />

muito. Não tem nada dessa coisa de racismo. Eu vou sincera,<br />

nunca ninguém me fez racismo. Não vê aquela senhora branca<br />

que mora aqui É como uma irmã minha. Nunca teve essa coisa<br />

de racismo, eu nunca senti”. (Musuba, 69 anos, origem guineense,<br />

residente em Chelas, concelho de Lisboa)<br />

“Tenho vizinhos muçulmanos, tenho católicos, brasileiros... Aqui<br />

tem muita religião. As amigas aqui na Quinta do Conde são todas<br />

católicas, porque não há muçulmanos aqui”. (Fariah, 68 anos,<br />

origem indiana, residente na Quinta do Conde, concelho de<br />

Sesimbra)<br />

Leila, de origem indiana, e a filha Manar, salientam mesmo a amizade<br />

criada com uma vizinha portuguesa, mais do que com outros indianos<br />

muçulmanos moradores na Brandoa, a sua zona de residência:<br />

“A maioria são europeus, não há muitos muçulmanos, mas são<br />

muito amigos da minha mãe. A minha mãe tem uma amiga, dãose<br />

muito bem há anos. Ela própria, a vizinha, já sabe mesmo os<br />

dias de festas e tudo, ela já sabe quando é que vai ser o Ramadão,<br />

essas coisas”. (Manar, 25 anos, origem indiana, filha de Leila.<br />

Residente na Brandoa, concelho da Amadora)<br />

Maria Abranches<br />

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