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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

já toda a gente me tinha visto… aquelas moralidades parvas. Já<br />

começámos a namorar, já toda a gente nos vê, era a imagem da<br />

minha família, estás a perceber (...) Eu agora, às vezes, tenho<br />

ideias de separar, porque, pronto, influencia-me um bocadinho a<br />

tradição dele, sinto-me às vezes um bocadinho presa. E penso, às<br />

vezes penso separar. Mas se eu um dia pensar em divorciar, é a<br />

imagem também da minha família, da minha parte, porque não há<br />

nenhum caso de divórcio, os meus irmãos está tudo bem. Então<br />

isso tudo pesa, percebes” (Inas, 27 anos, origem indiana)<br />

O divórcio é, no entanto, aceite pela religião muçulmana, e não deixaram<br />

de se encontrar situações de divórcio entre as entrevistadas ou familiares<br />

delas, tendo mesmo sido referida a tendência para o aumento do número<br />

de casos, com a progressiva autonomia da mulher, até por parte de Inas<br />

que, como vimos, sente que o peso da família influencia a sua decisão de<br />

manter o casamento.<br />

“Na nossa geração já esta a ser mais usual. Antigamente, se<br />

calhar, as nossas mães também tinham motivos para se separar,<br />

mas tinham aquela coisa... Para já, não eram independentes<br />

financeiramente, logo aí acabavam por ter que aguentar e, depois,<br />

pronto, era a imagem. É por isso que, hoje em dia, também há<br />

muito mais divórcios em todos os lados, porque nós somos muito<br />

mais independentes”. (Inas, 27 anos, origem indiana)<br />

“Quer dizer, quando as coisas não correm bem, também a religião<br />

muçulmana não proíbe a separação, desde que haja motivo para<br />

isso mesmo. (…) O outro lá, o primeiro, ele converteu-se para<br />

islamismo, mas depois começou a andar torto e, além de não<br />

cumprir a religião... Portanto, a maneira como é que ele se<br />

portava... E, assim, olha, chegou a altura que não aguentei e,<br />

depois, separámos”. (Fatimah, 58 anos, origem indiana, casada<br />

pela segunda vez. O primeiro cônjuge era convertido ao Islão, mas<br />

não praticante)<br />

O aumento das taxas de divórcio corresponde, de resto, a uma das<br />

alterações que tem vindo a verificar-se nas estruturas familiares portuguesas<br />

e nos restantes países ocidentais (Almeida e outros, 1998). Casos<br />

de famílias recompostas – novos tipos de família, resultantes do segundo<br />

casamento, cujos valores também têm aumentado em Portugal – surgem<br />

igualmente, como vimos, entre algumas entrevistadas que passaram por<br />

uma situação de divórcio. Também o aumento da idade média de entrada<br />

no primeiro casamento se observa, embora de forma menos acentuada,<br />

entre as entrevistadas muçulmanas, ficando a dever-se, tal como entre a<br />

população autóctone, ao alongamento da formação escolar. Práticas<br />

Maria Abranches<br />

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