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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

“A minha família é toda mandinga. Agora os meus filhos são fulamandinga,<br />

o pai é fula, a mãe é mandinga. Eles são as duas<br />

coisas”. (Mariatu, 44 anos, origem guineense, em Portugal desde<br />

1977, mãe de Diminga)<br />

A este respeito, é igualmente importante referir as origens étnicas e<br />

sociais das jovens muçulmanas que compõem a amostra, bem como a<br />

forma como se identificam. Diminga, filha de Mariatu, tem, assim, origem<br />

fula e mandinga, embora se autoidentifique sobretudo como fula, a etnia<br />

do pai. Por sua vez, Manar, filha de Leila, sendo de origem indiana, tem,<br />

portanto, origens portuguesas na família, por parte do pai.<br />

“Ó pá, eu sempre considerei-me mais fula. Nem é só por ser do<br />

meu pai. Eu cresci, convivi sempre com eles e, então, o que eu<br />

ouvi sempre foi mais o fula, mandinga não ouvi muito, porque a<br />

minha mãe é mandinga mas também fala fula, e eu sempre ouvi<br />

ela a falar mais fula. Então, sempre que as pessoas perguntavam,<br />

eu dizia: «Ah, eu sou fula». Mas eu não ligo muito”. (Diminga, 25<br />

anos, origem guineense, nascida em Portugal, filha de Mariatu)<br />

Entre as jovens guineenses, para além de Diminga, também Tchambu<br />

tem pais de etnias e, neste caso, religiões diferentes, sendo o pai de etnia<br />

fula e a mãe de etnia papel, católica. À semelhança de Fulé, Tchambu<br />

viveu só com a mãe durante um primeiro período de separação dos pais.<br />

Embora refira autoidentificar-se como muçulmana já nessa altura, devido<br />

à tradição de seguir a religião do pai, foi após a chegada a Portugal que,<br />

tendo passado a residir com familiares muçulmanos, começou a praticar<br />

de forma mais continuada a religião:<br />

“Eu lembro-me, quando era criança... Pronto, a religião<br />

muçulmana não permite comer carne de porco e, na altura, a<br />

minha mãe, que era católica... Eu dizia: «Não, mãe, eu não posso<br />

comer isso, que eu sou muçulmana». Já tinha aquela ideia: «O<br />

meu pai é muçulmano, eu também sou». Porque normalmente os<br />

filhos têm sempre que seguir a religião do pai. Mas não pude<br />

praticar muito mais por causa disso. E depois, entretanto, quando<br />

vim para cá, vim para casa da minha tia, que é irmã do pai. Ela<br />

é muçulmana – a família toda do meu pai, é tudo muçulmano – e<br />

foi cá que eu comecei a ir para a mesquita aprender”. (Tchambu,<br />

24 anos, origem guineense, chegou a Portugal em 1990, com<br />

11 anos)<br />

As restantes jovens guineenses são de etnia fula e mandinga. As jovens<br />

indianas, por seu lado, para além de Manar, têm origem exclusivamente<br />

indiana, excepto Hana, de origem mista indiana e moçambicana negra.<br />

Maria Abranches<br />

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