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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

Sendo estes grupos formados com base nos laços de amizade, as<br />

rivalidades entre estas redes de sociabilidade são atenuadas através dos<br />

convites mútuos e do sistema de “multa”, ligado à obrigatoriedade que os<br />

membros de cada associação têm de participar nas festas dos outros<br />

grupos. Se não o fizerem sem que haja um motivo forte que o justifique,<br />

não cumprem uma regra social, tendo que posteriormente reparar essa<br />

quebra das normas (Quintino, 2004).<br />

“Eu estou sempre a trabalhar, sempre. Desde que eu comecei<br />

este trabalho aqui não tenho sossego. Saio de casa, venho para<br />

aqui, só saio daqui à noite. É muito cansativo, eu vou estar<br />

rebentada estes dois fins-de-semana com as festas... Sábado,<br />

domingo, sábado, domingo... Estamos todas rebentadas. Pronto,<br />

mas quando tem festa de outro grupo eu também tenho que ir,<br />

senão depois ninguém vai vir para mim. Você pode ter alguma<br />

coisa, os seus filhos para baptizar, mas se não costuma ir para<br />

ninguém, ninguém vai para ti. Acaba por ser assim, então é por<br />

causa disso que tem que ir”. (Mariatu, 44 anos, origem guineense)<br />

Para além destas associações, às quais pertencem três das entrevistadas<br />

mais velhas, a mais conhecida das associações de imigrantes da Guiné-<br />

-Bissau, a Associação Guineense de Solidariedade Social (AGUINENSO),<br />

constituída em 1987, é referida apenas por Musuba 32 , que afirma ter<br />

deixado de ser filiada, mas continuar a receber apoio do próprio presidente<br />

da associação, sempre que necessário.<br />

Nafanta e Naniampe, chegadas mais recentemente a Portugal, pertencem<br />

à Associação dos Muçulmanos Naturais da Guiné-Bissau<br />

Residentes em Portugal (AMNGB), sediada na Mesquita Central de Lisboa<br />

e fundada pelos muçulmanos guineenses no quadro da Comunidade<br />

Islâmica de Lisboa (CIL). Tendo como objectivos a garantia da prática<br />

religiosa, o ensino do Alcorão e a assistência social aos mais<br />

necessitados, esta associação foi criada com vista à preservação das<br />

especificidades culturais dos muçulmanos guineenses, ligadas à sobreposição<br />

do animismo e do Islão (Quintino, 2004). Para além de Nafanta e<br />

Naniampe, também Mariatu, em Portugal desde 1977, refere ter participado<br />

activamente nessa associação antes da formação do grupo Gente<br />

Rica, ao qual pertence actualmente em exclusividade.<br />

32. Note-se, contudo, que a AGUINENSO representa a associação à qual pertence um<br />

maior número de guineenses, tendo adquirido grande protagonismo nas movimentações<br />

políticas junto do Estado e de outras instituições (Machado, 2002).<br />

Maria Abranches<br />

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