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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

apoiava, eu não pagava nada. Depois... Eu tenho um primo-irmão<br />

que está no Porto, em Vila Nova de Gaia. Eu fui para lá porque aqui<br />

já não dava, eu estava à procura de trabalho e não conseguia, e ele<br />

lá me garantiu um emprego. Quando cheguei lá, arranjaram-me<br />

um trabalho numa fábrica japonesa, de eléctricas. Eu fui lá trabalhar,<br />

e através disso é que eu consegui o visto. Fizeram-me o contrato,<br />

depois fizeram-me o visto. Estive lá seis meses. Quando<br />

cheguei aqui já tinha visto e fui trabalhar na fábrica de bolos,<br />

trabalhei lá acho que foi três anos. Aí, como lá era bem pesado, eu<br />

deixei aquele trabalho e fiz inscrição na fábrica de gelados.<br />

É assim, o trabalho é razoável, pagam bem. Mas eu gostava de<br />

trabalhar em informática”. (Aisatu, 23 anos, origem guineense,<br />

chegou a Portugal em 1998, com 18 anos)<br />

As trajectórias profissionais diferenciam-se, assim, entre grupos de<br />

origem e gerações. Quer as guineenses mais velhas, quer as mais jovens,<br />

exercem geralmente actividades menos qualificadas do que as indianas,<br />

embora as diferenças geracionais sejam visíveis, na medida em que as<br />

primeiras apresentam maiores dificuldades de inserção profissional. As<br />

diferenças entre o grupo das indianas e o grupo das guineenses também<br />

se relacionam com o tempo de residência, frequentemente mais reduzido<br />

nas segundas, e com as origens sociais. De facto, já no país de origem se<br />

podem identificar diferenças de estatuto socioprofissional entre grande<br />

parte das mulheres de ambos os grupos, que se traduz também numa<br />

migração ligada ao reagrupamento familiar por parte das guineenses,<br />

cujos maridos são, ao contrário de grande parte dos indianos, migrantes<br />

laborais. É, pois, importante ter em conta as origens sociais e as<br />

estruturas familiares destas mulheres e jovens muçulmanas, para<br />

melhor compreender, por um lado, o campo de possibilidades mais ou<br />

menos limitado em que se inserem (Velho, 1987) e, por outro, as<br />

estratégias que desenvolvem relativamente a diversas dimensões sociais<br />

e culturais.<br />

Estratégias de negociação entre um desejo de autonomização e<br />

realização pessoal e o controlo familiar e social fortemente presente<br />

nestes grupos, são também claramente visíveis em algumas destas<br />

mulheres mais velhas, quer através de uma inserção profissional<br />

autónoma das próprias em Portugal, quer através da possibilidade de<br />

prolongamento dos estudos e do exercício de uma actividade profissional<br />

mais qualificada por parte das filhas (embora permaneça aqui a consciência<br />

do risco de perda de alguns valores tradicionais, devido à filtragem<br />

de novos códigos culturais), sendo estes dois factores mais<br />

evidentes entre as indianas. De facto, é importante destacar a maior<br />

Maria Abranches<br />

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