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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

identitária desta jovem e dos seus irmãos, devido à ausência dos pais. O<br />

seguinte discurso de Inas ilustra, por sua vez, a ideia de que os<br />

casamentos mistos aumentam com a migração:<br />

“Só nesta geração é que começou a haver mais conversões, foi<br />

quando viemos para aqui, percebes Quando a comunidade<br />

começou a vir mais para Portugal. Aí é que começou, por causa da<br />

escola e do convívio, percebes E, então, acabou por haver mais<br />

conversões e casamentos fora da mesma comunidade. Dos meus<br />

irmãos, eu e a [Ayra] estamos casadas com muçulmanos, uma<br />

miúda e dois rapazes estão casados com católicos, portugueses.<br />

As minhas cunhadas não são convertidas, porque o meu pai achou<br />

que, pronto, se elas não quisessem se converter, desde que<br />

respeitassem, não era necessário converter. Já o meu cunhado é<br />

convertido, já teve que se converter mesmo. Normalmente os<br />

homens têm que sempre ser convertidos”. (Inas, 27 anos, origem<br />

indiana, irmã de Ayra)<br />

Do mesmo modo, apesar do menor grau de controlo do período de<br />

namoro e da sexualidade, que caracteriza as guineenses, é igualmente<br />

rara a existência de familiares do sexo feminino casados com homens de<br />

religião diferente. Quando tal acontece, é uma situação que cria, muitas<br />

vezes, conflitos:<br />

“Tenho uma prima que casou com um português, cristão. Ela<br />

saiu da família, ela neste momento está a viver na Alemanha<br />

com o marido e o filho. Nós ainda falamos com ela, mas os mais<br />

velhos já não, ela já perdeu o respeito”. (Aisatu, 23 anos, origem<br />

guineense)<br />

A estas situações associa-se a ideia de projecto e campo de possibilidades<br />

de Gilberto Velho. A relação entre o projecto social, predefinido de<br />

acordo com interesses comuns, como a religião, modos de vida, grupo<br />

étnico ou família, e o espaço para a concretização de projectos individuais<br />

cria, por vezes, tensões. Quando os projectos individuais não se<br />

coadunam com os interesses do todo do qual o indivíduo faz parte, sendo<br />

o campo de possibilidades limitado e o controlo social apertado, a opção<br />

pode passar por sair do seu grupo de origem, ou seja, o desviante deixa<br />

de seguir os costumes e normas do grupo a que pertencia (Velho, 1987).<br />

Este movimento de individualização pode ocorrer pacificamente ou, como<br />

no caso da prima de Aisatu, em situação de conflito familiar.<br />

Entre as guineenses mais velhas, é frequente, por sua vez, o casamento<br />

entre primos, filhos de dois irmãos do sexo masculino, sendo esta<br />

considerada a ligação matrimonial preferencial, na medida em que<br />

Maria Abranches<br />

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