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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

A discussão e análise científica das especificidades das experiências<br />

migratórias das mulheres que constituem o objecto deste estudo, contribuem<br />

para perceber a necessidade de repensar o discurso multiculturalista,<br />

reforçando a importância de reconhecer a diversidade cultural<br />

e, simultaneamente, promover a igualdade dos direitos individuais,<br />

independentemente das culturas. De facto, ao defender incondicionalmente<br />

as diferentes identidades culturais, o multiculturalismo encerra<br />

em si mesmo factores de discriminação, que podem ser traduzidos em<br />

casos limite como a excisão entre as guineenses, tópico analisado no<br />

capítulo 4.<br />

Outras formas de discriminação ou obstáculo à liberdade individual<br />

vividas pelas jovens de algumas minorias muçulmanas na Europa,<br />

nomeadamente o facto de os seus projectos de autonomia (quer ligados à<br />

inserção profissional, quer ao percurso escolar) serem travados por não<br />

se coadunarem com a respectiva tradição e cultura, são também<br />

ignoradas pela perspectiva multiculturalista, que não coloca a hipótese da<br />

existência de formas voluntárias de aculturação ou miscigenação<br />

cultural, ou seja, de as normas culturais prevalecentes nas sociedades de<br />

acolhimento poderem constituir uma opção de cultura para estas minorias<br />

(Machado, 2002). De facto, o género ocupa uma posição fundamental<br />

nos processos de construção identitária, sendo importante não subvalorizar<br />

este elemento, tal como fazem muitos defensores do multiculturalismo,<br />

que pensam a estruturação da sociedade, antes de mais, em<br />

termos étnicos, ignorando a existência de desigualdades fortes entre<br />

homens e mulheres em certos grupos minoritários (Machado, 2002).<br />

E, embora as próprias referências culturais possam ser continuamente<br />

transformadas por estas mulheres, torna-se importante relembrar que<br />

são, muitas vezes, os constrangimentos sociais internos ao seu grupo de<br />

pertença que travam os seus projectos individuais, dado o controlo<br />

familiar e social que aí se faz sentir, mesmo no contexto da sociedade<br />

receptora. Os direitos individuais devem, assim, ser transversais às várias<br />

culturas, e o diálogo intercultural torna-se imperativo, sendo a situação<br />

ideal aquela em que “as pessoas e os grupos sociais têm direito a ser<br />

iguais quando a diferença os inferioriza, e o direito a ser diferentes<br />

quando a igualdade os descaracteriza” (Sousa Santos, 1997: 30).<br />

A população muçulmana de origem guineense e indiana em Portugal<br />

adere sobretudo a formas moderadas de manifestação do Islão, definidas<br />

pelos já citados autores Lamchichi e Cesari como popular e tranquilo –<br />

característico, tal como em França, da maioria das mulheres mais velhas<br />

– ou como maioritariamente individualizado, no que diz respeito às jovens,<br />

nascidas ou não em Portugal, em que as referências islâmicas, mantendo<br />

Maria Abranches<br />

199

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