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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

No mesmo sentido, Aisatu e Tchambu mencionam a prova de virgindade<br />

pela qual, na Guiné, as mulheres tinham que passar na noite do<br />

casamento, e que, segundo Tchambu, ainda se realizava em Portugal até<br />

há alguns anos atrás. Ambas salientam, porém, que essa prática deixou<br />

de se cumprir, devido à perda do significado atribuído à virgindade antes<br />

do casamento:<br />

“Quando és virgem, deixam-te ir à noite com o teu marido, porque<br />

tu sempre estás vestida de branco, então, se fores virgem vai<br />

sujar de sangue. Mas aqui já não fazem, porque a maioria que está<br />

aqui já não cumpre”. (Aisatu, 23 anos, origem guineense)<br />

“Ainda me recordo, quando eu era mais novinha, quando as<br />

minhas colegas que eram aqui da zona, que eram muçulmanas,<br />

casaram, ainda fez-se o teste da virgindade. As minhas primas<br />

casaram cá e ainda fizeram. Pronto, depois da primeira noite com<br />

o marido, as pessoas mais velhas normalmente estão sempre por<br />

perto, que é para depois irem buscar as provas, o lençol sujo de<br />

sangue. Até há uns anos atrás, quando essas minhas amigas<br />

casaram, foi assim, mas depois, entretanto, deixaram de fazer.<br />

Hoje ninguém liga”. (Tchambu, 24 anos, origem guineense)<br />

4.3. A Escolha do Cônjuge e os Sistemas Familiares<br />

Numa primeira fase do ciclo migratório, sabe-se que a maioria da<br />

população imigrante, em geral, continua a casar-se com pessoas do próprio<br />

grupo de origem, embora alguns homens acabem por estabelecer<br />

relações conjugais com mulheres da sociedade de acolhimento, devido à<br />

desproporção sexual nos primeiros anos de estadia no país receptor, em<br />

que as mulheres aparecem ainda em número reduzido. Quando a composição<br />

sexual se reequilibra, numa fase posterior do ciclo migratório, o<br />

casamento exogâmico tende a diminuir, aumentando depois, novamente,<br />

com a sucessão de gerações (Machado, 2002). Em particular entre os<br />

guineenses, é ainda de referir o facto de a exogamia, tanto na primeira<br />

como na mais recente fase do ciclo migratório, ocorrer mais frequentemente<br />

entre o segmento da população de nacionalidade portuguesa, há<br />

mais tempo em Portugal e de condição social mais privilegiada, facto que<br />

se deve às maiores continuidades sociais e culturais com a população<br />

autóctone (Machado, 2002). A subida das taxas de casamento fora do<br />

grupo de origem, que passa a caracterizar, na fase mais avançada do<br />

ciclo migratório, em que se verifica a sucessão de gerações, tanto<br />

homens como mulheres de origem imigrante, não conhece, porém, uma<br />

correspondência nas jovens muçulmanas em Portugal. Como veremos, o<br />

forte controlo social e familiar e o fechamento intra-étnico que carac-<br />

Maria Abranches<br />

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