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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

eles, domingo, às 8 da manhã, já estavam cá todos. Foi toda a<br />

noite a tentar bilhetes, no aeroporto. Eles estavam em Inglaterra.<br />

Se fosse em Moçambique... É difícil ir a correr a Moçambique, já<br />

é mais complicado. Porque o corpo de um muçulmano morto não<br />

pode ver o dia seguinte, sabes Então, às vezes, há complicações,<br />

não é Se faleceu no hospital, há aquilo da autópsia, e não-seiquê,<br />

da certidão de óbito... Normalmente os médicos, em<br />

hospitais, já sabem. Acho que há compreensão, as pessoas têm<br />

que compreender os costumes dos outros. A Junta de Freguesia<br />

concedeu uma parte só para enterrar muçulmanos, no cemitério<br />

de Odivelas. Temos tido ajuda, mas também sempre houve luta,<br />

dos primeiros que chegaram cá. Luta pelo terreno do cemitério,<br />

do talho...” (Latifah, 27 anos, origem indiana)<br />

Ao contrário dos rituais ligados ao nascimento e ao casamento, em que a<br />

participação da mulher ocupa um lugar central, no ritual do cortejo fúnebre<br />

e de enterro é desaconselhada a presença das mulheres, embora não<br />

seja proibida. O rito de preparação e lavagem do corpo é, por sua vez,<br />

realizado pelos familiares do mesmo sexo do falecido.<br />

“É assim, no caso da minha mãe – pronto, é o caso específico que<br />

eu vou te falar – a pessoa é lavada, e à medida que vão dando<br />

banho estão a rezar, sempre a rezar, porque essas rezas e aquele<br />

banho é que fazem com que a pessoa vá pura para o sítio onde vai,<br />

não é Depois disso a pessoa é embrulhada só em lençóis<br />

brancos, e depois é levada para o cemitério, é enterrada nessa<br />

parte para muçulmanos, se tiver sorte, né Mas a coisa diferente<br />

que existe é que quando a pessoa é enterrada vai directamente<br />

para a terra, não vai no caixão, vai mesmo directamente para a<br />

terra, estás a perceber A pessoa é posta na cova por uma pessoa<br />

chegada. Por exemplo, eu e a minha irmã estivemos lá a assistir<br />

àquele banho todo, e não-sei-quê, e ajudámos também, mas já<br />

não fomos para o cemitério, foi o meu irmão. Os homens é que vão<br />

ao cemitério, e o meu irmão é que pôs a minha mãe dentro da<br />

cova. A parte do banho é feita por mulheres mais velhas – tias e<br />

não-sei-quê – pessoas que sabem fazer e que orientam as coisas,<br />

estás a perceber Elas é que estão ali, elas é que nos dizem como<br />

é que é: «Façam assim, façam assado»”. (Hana, 23 anos, origem<br />

indiana)<br />

“Eu, no caso do meu pai, quis mesmo ir porque, pronto... Eu tinha<br />

18, pus na cabeça que queria mesmo ir ao cemitério, mas as<br />

mulheres, normalmente, não vão ao cemitério. E, depois, tens 40<br />

dias em que todas as quintas-feiras te fazem uma cerimónia, tipo<br />

uma missa, durante 40 dias, normalmente em casa da pessoa que<br />

Maria Abranches<br />

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