PERTENÃAS FECHADAS EM ESPAÃOS ABERTOS - Acidi
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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />
e nas famílias recém-formadas por aquelas que já se casaram, o que leva<br />
a questionar a expressão que virão a ter as línguas de origem nas<br />
gerações futuras.<br />
Para além das línguas de origem étnica e territorial, o árabe constitui a<br />
língua oficial comum aos muçulmanos em geral, na qual são proferidas<br />
as orações e conduzidas as cerimónias religiosas. Poucas são, porém, as<br />
mulheres indianas ou guineenses que referem saber expressar-se ou<br />
compreender a língua, para além dos vocábulos que fazem parte das<br />
orações. Aliás, é mesmo mencionado o facto de a aprendizagem da<br />
leitura do Alcorão em árabe, que se faz nas escolas corânicas, parte da<br />
socialização religiosa no período da infância de um muçulmano, apenas<br />
permitir pronunciar alguns versículos sagrados, não se concretizando<br />
geralmente uma aprendizagem mais aprofundada dessa língua.<br />
Observa-se, contudo, uma diferença entre ambas as populações no que<br />
diz respeito à compreensão da língua sagrada, na medida em que<br />
algumas línguas de origem indiana ou paquistanesa, como o urdu, falado<br />
por algumas das indianas mais velhas, utilizam o mesmo alfabeto,<br />
enquanto as línguas étnicas guineenses têm raízes totalmente diferentes.<br />
“Urdo é a língua nacional de Paquistão, que eu aprendi a ler.<br />
Tenho aqui um livro que traduz... Quando eu tenho um problema<br />
que não estou a perceber o que é que está a dizer no árabe, então<br />
vou ler no urdo e já sei o que é que é. Mas é a mesma letra, só que<br />
não tem essas coisas [acentos] e é mais fininha. Mas é a mesma<br />
letra, e eu gosto muito”. (Leila, 67 anos, origem indiana, em<br />
Portugal desde 1976)<br />
Neste sentido, apenas entre as indianas foi possível observar uma melhor<br />
compreensão do árabe, estando mesmo Manar, filha de Leila, a<br />
frequentar aulas de língua árabe na Mesquita Central de Lisboa,<br />
enquanto Fatimah, mais velha, se dedica ao ensino da língua à<br />
comunidade. Pelo contrário, nenhuma guineense aprofundou os estudos<br />
da língua que representa a religião. Diminga, uma jovem entrevistada<br />
guineense, chega mesmo a admitir um conhecimento mais avançado do<br />
Alcorão por parte dos indianos, facto igualmente ligado à compreensão<br />
do árabe, do qual começou a aperceber-se quando ainda frequentava a<br />
escola corânica, num local de culto no Forte da Casa, concelho de Vila<br />
Franca de Xira:<br />
“Eu lá nunca notei separação, tanto os indianos como os<br />
guineenses estavam lá. (...) O que eu notava era que eles sabiam<br />
mais que nós, né Eles, praticamente quando entravam, já<br />
estavam a ler, e nós ainda estávamos no abecedário, estávamos<br />
Maria Abranches<br />
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