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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

Este exemplo constitui, porém, uma excepção, sendo Hana a única, entre<br />

as oito jovens entrevistadas de origem indiana, que não tem nacionalidade<br />

portuguesa. Como referido inicialmente, as mulheres de origem indiana<br />

que constituem a amostra (sobretudo as mais novas, mas também as<br />

mais velhas) possuem nacionalidade portuguesa em maior proporção do<br />

que as guineenses (ver quadros 1 e 2), facto que caracteriza a<br />

generalidade dos elementos daquele grupo que, em grande parte, eram<br />

já detentores de nacionalidade portuguesa no país de origem. Esta<br />

especificidade constitui, portanto, um dos factores que, logo à partida,<br />

diferencia as duas populações em análise. Apesar do forte grau de contraste<br />

cultural com a sociedade envolvente, traduzido essencialmente na<br />

diferenciação religiosa e nas formas de sociabilidade mais autocentradas<br />

(elementos, aliás, transversais aos segmentos de religião muçulmana<br />

dos dois grupos, de origem indiana e guineense), não podemos deixar de<br />

ter em conta o facto de a população de origem indiana ser composta<br />

maioritariamente por cidadãos nacionais, o que não acontece com a<br />

população guineense.<br />

Apesar de nacionalidade e condições sociais não serem necessariamente<br />

categorias directamente relacionadas, a nacionalidade portuguesa<br />

possibilita geralmente melhores oportunidades de vida e influencia<br />

aspirações e projectos associados a essas possibilidades. No modelo de<br />

contrastes e continuidades das minorias em Portugal (Machado, 2002), os<br />

indianos apresentam, apesar da sua diversidade interna específica, um<br />

grau de contraste social fraco, contrapondo-se ao perfil de contraste<br />

cultural mais elevado.<br />

No que diz respeito à população africana, onde a divisão entre os<br />

indivíduos de nacionalidade portuguesa e estrangeira é mais significativa,<br />

verifica-se que os primeiros detêm habitualmente um estatuto social<br />

mais elevado e inserem-se em segmentos mais privilegiados da população,<br />

representando categorias etárias mais altas que deram origem aos<br />

fluxos migratórios. Por outro lado, os indivíduos mais jovens, descendentes<br />

de imigrantes e frequentemente já nascidos em Portugal, embora<br />

tenham também com frequência nacionalidade portuguesa, representam<br />

uma situação distinta, na medida em que não se incluem nos perfis<br />

sociais mais altos (Machado, 2002).<br />

Por sua vez, o tempo de residência e a consequente sucessão de<br />

gerações implicam igualmente processos de diferenciação social interna.<br />

No decorrer da pesquisa pudemos verificar que as raparigas mais jovens,<br />

embora mantendo uma forte coesão familiar (aderindo a grande parte dos<br />

valores e respeitando as normas religiosas), negoceiam com as suas<br />

Maria Abranches<br />

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