PERTENÃAS FECHADAS EM ESPAÃOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal Pelo contrário, e como referido inicialmente, as jovens guineenses entrevistadas não têm qualquer filiação associativa, à excepção de Tchambu, que, por necessidade de informações ligadas à vinda de um irmão para Portugal, fez uso instrumental de uma associação que presta apoio a imigrantes. A filiação e participação associativa das mulheres muçulmanas reproduzem, portanto, os modelos de sociabilidade que desenvolvem. Na medida em que as raparigas mais jovens estabelecem redes de relacionamento “para fora”, quer com pessoas da sociedade de acolhimento, quer, nomeadamente no caso das guineenses, com pessoas de outros grupos étnicos ou mesmo com outras populações de origem africana não guineense, ligam-se com menos frequência a associações étnicoreligiosas do que as suas mães e do que as mulheres mais velhas, em geral. Estas, por seu lado, embora se envolvam menos em movimentos associativos formais do que os homens, apresentam singularidades da participação em redes de sociabilidade femininas, recriando, no país de imigração, os sistemas de solidariedade femininos que desenvolvem nos países de origem, designadamente através das festas ou serões que organizam. Porque as indianas apresentam, na sua maioria, um estatuto social mais privilegiado, quer na origem, quer no destino, são as guineenses que estabelecem redes de entreajuda e de convívio em maior número, prestando muitas vezes serviços de apoio umas às outras, mesmo fora dos circuitos organizados de sociabilidade. A organização feminina guineense relativamente ao transporte para as festas ou para a mesquita, às sextas-feiras, é disso um exemplo. As mulheres que têm viatura própria organizam-se, assim, de acordo com as zonas de residência, de forma a que todas disponham de transporte para as suas casas. Às sextas-feiras, no final da oração e após o momento de convívio à saída da mesquita, é visível a rápida disponibilização dos carros que se destinam à Amadora, ao Rossio, a Vila Franca de Xira ou a outras zonas da cidade e arredores, embora esta organização envolva também a participação masculina, mais do que a mobilização para as festas regularmente levadas a cabo, para onde as mulheres se dirigem mais cedo do que os homens, no sentido de participarem na confecção dos alimentos e na organização do espaço, funcionando aqui redes exclusivamente femininas. As redes de entreajuda feminina de carácter mais informal contribuem também para a criação de actividades comerciais. Nafanta, por exemplo, empregada de limpeza num hipermercado de Lisboa, tem um projecto iniciado na área do comércio, que conseguiu com a ajuda de algumas Maria Abranches 191
PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal amigas, as quais lhe emprestaram o dinheiro necessário para a compra de peças de vestuário recentemente enviadas para a Guiné-Bissau, onde os filhos as irão vender. Os benefícios do envolvimento e da participação em grupos são, neste caso, claramente visíveis. Os recursos disponibilizados pelas comunidades aos seus membros constituem, de facto, uma vantagem das sociabilidades, numa conjunção entre motivações altruístas e instrumentais (Portes, 2000). O capital social, decorrente das relações sociais intragrupo, beneficia assim estas mulheres, ao mesmo tempo que lhes pode restringir a liberdade individual em alguns aspectos. Tal como já vimos, essa restrição acontece sobretudo com o controlo social exercido sobre as mais jovens, que lhes limita a própria construção das sociabilidades, mais no que diz respeito à dimensão familiar, como se pode ver na escolha do cônjuge, circunscrita ao grupo de origem, do que na dimensão das redes de amizade, face às quais lhes é permitida uma maior negociação e autonomia. Maria Abranches 192
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