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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

De qualquer forma, iniciativas como esta podem contribuir para a luta<br />

contra a prática da excisão, claramente violadora dos direitos humanos.<br />

A coexistência entre direitos e tradições não pode, de facto, levar a que os<br />

primeiros sejam postos em causa pelas segundas, em defesa<br />

incondicional da diversidade cultural. É importante reforçar a ideia de<br />

que, apesar de continuar frequentemente a praticar-se o “fanado” após a<br />

migração, sobretudo em viagens com as crianças à Guiné, são as<br />

entrevistadas mais jovens, excisadas ou não, que quebram o silêncio em<br />

torno da prática, manifestando uma opinião mais clara acerca da mesma.<br />

Estas jovens chegam mesmo a condenar (embora, em alguns casos,<br />

ainda timidamente) a prática da excisão, e já não pretendem que as suas<br />

filhas o façam. Todavia, também não devemos esquecer, mais uma vez, o<br />

controlo social e familiar que envolve estas mulheres, e que pode anular<br />

as suas intenções de emancipação a este nível.<br />

4.2. Do “Namoro Escondido” ao Casamento:<br />

a Representação da Sexualidade<br />

O período da adolescência das jovens muçulmanas constitui tradicionalmente<br />

uma fase transitória de preparação para o seu papel de mulher na<br />

fase seguinte do ciclo da vida: o casamento. Durante esse período de<br />

formação, a aprendizagem das tarefas domésticas e da forma de educar os<br />

futuros filhos são factores fundamentais, na medida em que à mulher cabe<br />

a gestão da esfera privada. Tal como os rituais de iniciação ligados ao<br />

nascimento e à passagem à condição de mulher se ligam às crenças<br />

e tradições associadas ao corpo e à sexualidade, também na fase de preparação<br />

do casamento se encontra claramente esta ligação (Weibel, 2000).<br />

Assim, entre as normas que as mulheres muçulmanas em Portugal<br />

procuram conservar e transmitir às filhas, distinguem-se aquelas que se<br />

ligam à sexualidade feminina. Verificam-se, todavia, algumas diferenças<br />

entre populações de origem distinta, através das respectivas tradições<br />

locais, bem como entre gerações. Importa aqui analisar, em particular, as<br />

variações entre o que é transmitido e aquilo que é recebido e transformado,<br />

por influência de vários factores, no processo de construção<br />

identitária. De resto, como já vimos, o prolongamento dos estudos destas<br />

jovens é já um importante sinal de mudança, que altera igualmente a fase<br />

que, de acordo com a tradição, seria apenas dedicada à preparação para<br />

o casamento.<br />

Uma vez que a função de educação dos filhos pertence às mulheres, o<br />

casamento de uma filha de acordo com as normas do grupo de pertença<br />

Maria Abranches<br />

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