PERTENÃAS FECHADAS EM ESPAÃOS ABERTOS - Acidi
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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />
limitados, em contraste com um fortalecimento da dimensão de<br />
dominância sobre os outros por parte da categoria masculina, persistindo<br />
uma identidade religiosa forte, associada a modos de vida tradicionais<br />
que envolvem especificidades próprias do papel da mulher.<br />
Por outro lado, os recentes processos de democratização da vida pessoal<br />
na modernidade conduzem à atribuição de um papel fundamental às<br />
mulheres, que abandonam o controlo masculino que lhes era reservado<br />
nas sociedades pré-modernas, passando a experimentar uma nova<br />
liberdade, na qual desenvolvem potencialidades e qualidades (Giddens,<br />
1992). A eliminação do óbvio na dominação masculina foi resultado de<br />
profundas transformações vividas pela condição feminina, nomeadamente<br />
no que diz respeito ao alargamento do acesso ao ensino e ao<br />
trabalho assalariado – que conduz a uma independência económica – à<br />
distanciação relativa às tarefas domésticas e à transformação das<br />
estruturas familiares (Bourdieu, 1999).<br />
O movimento global da modernidade na sociedade portuguesa dos<br />
últimos 30 anos produz, de facto, alterações nas formas de organização<br />
familiar, associadas a uma melhoria das condições de vida da maioria da<br />
população. A presença das mulheres no mercado de trabalho e o<br />
alargamento da escolaridade feminina conferem à mulher um maior<br />
protagonismo familiar, social e económico, que se traduz numa maior<br />
capacidade de decisão e negociação no casal. Também as formas de<br />
conjugalidade se alteram, verificando-se uma promoção do bem-estar da<br />
família sem detrimento da autonomia dos dois indivíduos e dos seus<br />
projectos individuais de realização pessoal. O casamento é, portanto,<br />
nestes casos, visto como uma associação (Almeida e outros, 1998; Torres,<br />
2002).<br />
Contudo, estudos na área da sociologia da família têm demonstrado a<br />
relação existente entre formas de conjugalidade e classe social. Menor<br />
escolaridade é frequentemente sinónimo de dinâmicas familiares mais<br />
tradicionais e fechadas, com uma maior diferenciação dos papéis sexuais,<br />
onde se mantém uma clara diferenciação entre o papel instrumental do<br />
homem e o papel expressivo da mulher (Torres, 2002; Aboim e Wall,<br />
2002).<br />
No caso das mulheres muçulmanas em Portugal, como será demonstrado<br />
ao longo da análise, é também o controlo social e familiar forte<br />
que, para além da classe social, condiciona as dinâmicas da família,<br />
permanecendo uma maior hierarquização dos papéis – de acordo com<br />
critérios como o sexo e a idade – e um maior fechamento. Embora,<br />
Maria Abranches<br />
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