PERTENÃAS FECHADAS EM ESPAÃOS ABERTOS - Acidi
PERTENÃAS FECHADAS EM ESPAÃOS ABERTOS - Acidi
PERTENÃAS FECHADAS EM ESPAÃOS ABERTOS - Acidi
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />
As origens sociais das duas populações são, por seu lado, diferenciadas.<br />
Enquanto grande parte dos familiares das indianas, em Moçambique, era<br />
proprietária de estabelecimentos comerciais e, por vezes, de armazéns<br />
de grande dimensão, as famílias das guineenses exerciam sobretudo<br />
actividades agrícolas. Embora os pais de algumas mulheres guineenses<br />
se inserissem no sector comercial, eram geralmente pequenas<br />
actividades, muitas vezes ligadas à venda ambulante:<br />
“O meu pai, antes de morrer, ensinava, era padre. E outro trabalho,<br />
só o campo. A minha mãe era negócios, a vender assim<br />
coisas, coisinhas. Nem é comerciante, é, tipo, vender umas coisinhas<br />
assim”. (Mariatu, 44 anos, origem guineense, em Portugal<br />
desde 1977)<br />
“Os meus pais tinham uma loja de tecidos em sociedade com o<br />
meu tio. A minha mãe… pronto, ia assim um pouco ajudar, né<br />
Naquele tempo já sabe… As mulheres não iam muito, praticamente<br />
ficavam em casa”. (Raja, 49 anos, origem indiana, em<br />
Portugal desde 1981)<br />
“O meu pai tinha fábricas de caju, ele era um grande empresário<br />
lá. Claro que perdeu tudo quando a mudança do governo foi para<br />
Moçambique, não é Era uma grande fortuna, tivemos que<br />
começar… A minha mãe, em Moçambique, não trabalhava, mas<br />
quando fomos para Inglaterra, porque começámos a vida a zero,<br />
precisou-se de trabalhar, e ela começou a fazer como cozinheira<br />
e ajudante de cozinha para uma família particular. O meu pai<br />
começou uma empresa e dali… Começou por várias empresas,<br />
por várias aventuras. Foi assim”. (Samirah, 38 anos, origem<br />
indiana, em Portugal desde 1988)<br />
Musuba apresenta um estatuto social mais elevado entre as guineenses,<br />
na medida em que o pai, tendo sido um dos chefes locais (régulos) na<br />
Guiné, detinha um número elevado de propriedades agrícolas onde trabalhavam<br />
as suas mulheres:<br />
“Minha mãe trabalhava na Bolanha 11 (…). Meu pai era régulo do<br />
meu país, não fazia nada, tinha os trabalhadores dele. Meu pai<br />
tinha 25 mulheres lá. Todas as mulheres tinham que trabalhar na<br />
Bolanha dele”. (Musuba, 69 anos, origem guineense, em Portugal<br />
desde 1968)<br />
No que diz respeito às origens étnicas, entre as guineenses encontram-<br />
-se as etnias de maioria muçulmana (fulas, mandingas e uma beafada),<br />
11. Campos de cultivo de arroz.<br />
Maria Abranches<br />
72