PERTENÃAS FECHADAS EM ESPAÃOS ABERTOS - Acidi
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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />
pode ser portadora de desonra para a família, sendo, portanto, uma<br />
preocupação dos pais:<br />
“No dia-a-dia nunca me visto de forma tradicional, é só mesmo<br />
nas festas, se há alguma coisa mais religiosa. Se vou para casa de<br />
algum familiar do meu marido mais tradicional, aí visto-me mais…<br />
Até pode não ser mesmo com o traje mas, se calhar, uma calça<br />
mais larga e uma túnica, percebes Mas um caso que a minha<br />
mãe, às vezes, fica chocada, é o vestuário. Às vezes vou mais<br />
apertada ou estou com uma alça, e não-sei-quê, e se a minha mãe<br />
sabe que eu vou para algum meio em que haja mais muçulmanos,<br />
aí é capaz de dizer: «Ó [Inas], já estás a abusar»”. (Inas, 27 anos,<br />
origem indiana)<br />
“A minha mãe começa a stressar... Vê uma saia e diz: «Mas vais<br />
de saia». Percebes Com a minha avó eu posso estar de calças,<br />
de t-shirt... Agora, mini-saia, um top, os braços à mostra, as pernas<br />
à mostra, isso é que já não. Tipo um grande decote, não. E ao<br />
pé da minha mãe, não é que tenha problemas, mas claro que ela<br />
vai preferir que eu esteja normal do que esteja assim. Porque<br />
estar assim já é: «Pois, e se alguém a vê» Percebes Não é por<br />
ela”. (Rafiah, 21 anos, origem indiana)<br />
Neste sentido, o local de residência pode ser um elemento que influencia<br />
o comportamento ligado ao vestuário, do qual é ilustrativo o testemunho<br />
de Nisa, residente no Laranjeiro, onde se concentra um número elevado<br />
de muçulmanos:<br />
“Lá está, tenho algum cuidado, se calhar, por viver onde vivo,<br />
entendes Sou capaz de não sair com um top de barriga à mostra.<br />
Incomoda-me, se calhar, ver os olhares das pessoas, porque não<br />
se vestem assim. Uma questão mais de respeito, mas nunca<br />
deixei de vestir... Se calhar saio de casa com uma camisa e, se me<br />
apetece tirar a camisa e ficar de top, quando saio ali de...<br />
Percebes” (Nisa, 24 anos, origem indiana)<br />
O controlo social leva a que os hábitos de vestuário sejam, de facto,<br />
adaptados em função do lugar e da presença ou não de outros muçulmanos,<br />
sobretudo de pessoas mais velhas. O uso do fato de banho na<br />
praia é disso um exemplo:<br />
“Também isso dos fatos de banho é só mesmo quando estou na<br />
praia e sei que não está lá ninguém da minha religião, porque se<br />
houver lá alguém, claro que nem fico de fato de banho nem nada.<br />
Fico como estava vestida, assim. Só com os meus pais, se calhar,<br />
até sou capaz de tomar banho, mas, por exemplo, se for com mais<br />
alguém da família, assim com tios, e isso... Pronto, como já não<br />
Maria Abranches<br />
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