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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

No entanto, como já foi referido, as principais diferenças de inserção<br />

social entre mulheres de origem indiana e guineense manifestam-se<br />

sobretudo através das actividades profissionais exercidas no país<br />

receptor. Enquanto as guineenses têm essencialmente trabalhos pouco<br />

qualificados e mal remunerados no sector dos serviços domésticos, as<br />

mulheres indianas inserem-se maioritariamente em actividades<br />

comerciais, ligadas ao pequeno comércio ou mesmo à gerência e propriedade<br />

de grandes armazéns de importação e exportação, frequentemente<br />

em sociedade com os maridos. Apesar de a passagem pelo<br />

sector dos serviços domésticos em Portugal também poder ter ocorrido<br />

entre as mulheres de origem indiana de condição social mais baixa, as<br />

guineenses activas entrevistadas trabalham ou trabalharam todas no<br />

sector das limpezas, muitas vezes semcontrato, tendo algumas conseguido<br />

iniciar pequenas actividades comerciais por conta própria ao fim de<br />

um certo tempo:<br />

“O primeiro contrato que eu tive foi ali nos comboios, na limpeza.<br />

É o único sítio que eu tive contrato mesmo de verdade, porque nos<br />

outros era sempre sem contrato. Trabalhei em limpezas, trabalhei<br />

a dias em casa de senhoras... Fiz muita coisa. (...) Há quatro anos<br />

foi quando eu abri esta loja aqui. Porque eu sempre fazia a venda<br />

assim ambulante, né Eu ia na mesquita, levava coisas, vendia... Ia<br />

ali no Rossio quando havia aglomeração de africanos... Até que eu<br />

consegui esta loja, abri. Gosto, porque esse é meu, não é Pronto,<br />

não tenho que estar a dar contas a ninguém, é mais isso”.<br />

(Mariatu, 44 anos, origem guineense, em Portugal desde 1977)<br />

“Eu trabalhei na altura que o meu marido ganhava pouco. Eu,<br />

naquela altura, no início, trabalhava, na fábrica de chocolate.<br />

Trabalhei lá na limpeza desse chocolate, e na limpeza de<br />

escritório. Trabalhei muito na minha vida, também a mulher-adias.<br />

Sempre foi isso que eu fiz, não tenho escola. Nem<br />

descontava para a caixa... agora podia ser reformada, mas nunca,<br />

nunca, nunca. Agora vendo gelado a esses meninos que vêm bater<br />

à porta... Eu compro uns pacotes, assim, para fazer sumo de<br />

maracujá ou ananás, às vezes faço nata e meto na geleira. De<br />

noite eles vêm aqui bater à porta para comprar”. (Musuba, 69<br />

anos, origem guineense, em Portugal desde 1968)<br />

Um exemplo ilustrativo do modo como a solidariedade intra-étnica –<br />

analisada com maior detalhe no capítulo 6 – pode interferir igualmente na<br />

obtenção de emprego, é o de Fatimah, inserida num ramo profissional<br />

internamente ligado à comunidade: o ensino de árabe na mesquita.<br />

“A minha intenção, a minha vontade era arranjar crianças para<br />

ensinar o árabe. Mas quando vim para cá havia pouca gente<br />

Maria Abranches<br />

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