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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

INTRODUÇÃO<br />

“Quinta do Conde, casa do filho de Fariah. De sorriso nos lábios, Fariah<br />

leva-me para a sala, aponta-me o sofá e pede-me que espere, enquanto<br />

vai dar uma vista de olhos ao feijão indiano que coze no fogão. Na sala, o<br />

neto explica-me a história do jogo com o qual se diverte na playstation.<br />

Está, diz-me, na pele de um ladrão, cujo objectivo consiste em fugir,<br />

escapando às câmaras de vigilância, após o crime cometido. (...) Já a meio<br />

da entrevista com Fariah, que o neto vai seguindo pelo canto do olho,<br />

enquanto, na sua imaginação, foge do controlo das câmaras, ouve-se<br />

uma chave na porta. É o filho da entrevistada que chega a casa, o pai da<br />

criança. Esta corre, então, para ele, e, cumprimentando-o, diz,<br />

entusiasmada: “Pai, está ali a jornalista que veio entrevistar a avó!”<br />

Quando lhe explico que não sou jornalista, responde: “Mas tens um<br />

gravador de jornalista!” (Excerto do diário de campo, Setembro de 2003)<br />

***<br />

A pesquisa que aqui se apresenta tem como objectivo cruzar duas<br />

temáticas que, por enquanto, pouco caminham juntas na pesquisa<br />

sociológica, embora cada uma delas seja, separadamente, alvo de<br />

importante discussão na actualidade por parte das ciências sociais: a<br />

etnicidade e o género. Pretende-se, assim, alcançar uma maior compreensão<br />

sociológica da componente feminina do fenómeno imigratório<br />

em Portugal, especificamente do segmento de religião muçulmana dessa<br />

componente, oriunda, na sua grande maioria, de territórios que constituíram<br />

ex-colónias portuguesas: Guiné-Bissau e Moçambique. As<br />

mulheres que vieram de Moçambique são, na sua maioria, de origem<br />

indiana, tendo as suas famílias passado por uma primeira fase de<br />

migração, da Índia para esse país. As mulheres naturais da Guiné-Bissau<br />

ilustram, por sua vez, um processo de migração directa deste país para<br />

Portugal.<br />

Novas expressões das questões da imigração e da etnicidade são, de<br />

facto, observáveis através destes dois grupos de mulheres, que apresentam<br />

estratégias migratórias individuais que vão para além dos já conhecidos<br />

motivos de ordem económica e de reagrupamento familiar.<br />

Distinguem-se, assim, para além das motivações referidas, intenções de<br />

realização pessoal e mesmo de atracção pela cultura europeia no que diz<br />

respeito ao papel da mulher e, como consequência dessas estratégias<br />

específicas, a emergência de uma nova figura de mulher que procura<br />

construir, fora dos países de origem, onde subsistem factores mais pesados<br />

de discriminação com base no género, uma posição económica e<br />

social própria.<br />

Maria Abranches<br />

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