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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

numa primeira fase, os diferentes tempos de chegada a Portugal), em<br />

função do perfil social e da classe etária, e que se ligam ao controlo social<br />

e familiar. O capital social, ou seja, a capacidade de mobilizar recursos<br />

através da pertença a redes e outras estruturas sociais (Portes, 1999),<br />

sendo um elemento integrador e proporcionador de oportunidades,<br />

poderá, por outro lado, ter contrapartidas negativas, as quais as raparigas<br />

mais jovens procuram, por vezes, evitar, através do afastamento residencial.<br />

De facto, o controlo social, o apoio familiar e as redes extrafamiliares,<br />

assim como podem trazer benefícios ligados a melhores<br />

oportunidades de mobilidade educacional e económica, por meio do<br />

acesso aos recursos disponibilizados pelos próprios grupos de origem,<br />

poderão também restringir a liberdade individual destas jovens em<br />

alguns aspectos, tal como veremos nos capítulos seguintes.<br />

3.3. Percursos Escolares:<br />

Negociando Formas de Controlo Social e Familiar<br />

Como já vimos no capítulo 1, o acesso ao ensino e o prolongamento dos<br />

estudos é um dos aspectos mais importantes ao nível dos processos de<br />

negociação entre pais e filhas de religião muçulmana. Todavia, para<br />

melhor perceber estes processos, importa aqui referir as próprias<br />

estratégias ou representações das mulheres mais velhas face à<br />

importância da dimensão escolar e os ajustamentos que elas próprias<br />

têm muitas vezes que fazer para conseguir conciliar a tradição com a<br />

promoção da ascensão social das filhas. Estas últimas, inseridas num<br />

novo contexto, devem, assim, poder beneficiar da abertura das<br />

possibilidades que lhes permitirá uma autonomização geralmente não<br />

conseguida pelas suas mães que, no país de origem, não foram<br />

autorizadas a estudar.<br />

Na amostra recolhida, não se encontram, assim, diferenças significativas<br />

de escolaridade entre as mulheres mais velhas dos dois grupos, sendo<br />

comum a referência à proibição dos estudos imposta pela família de<br />

origem, embora tenham sido menos encontrados, entre as indianas,<br />

casos de total ausência de estudos (ver quadro 6). Entre as mulheres<br />

mais velhas de origem indiana, são as duas com menos idade, Samirah e<br />

Ayra, que, tendo saído de Moçambique ainda jovens, com as respectivas<br />

famílias, continuaram os estudos nos países receptores (Inglaterra e<br />

Portugal) e completaram o 12º e o 11º ano, respectivamente.<br />

“Naquele tempo, muitas pessoas não estudavam, eu só estudei<br />

madrassa. Muçulmanos, naquele tempo, os pais não queriam,<br />

não deixavam. As filhas não podiam ir à escola, só os rapazes.<br />

Maria Abranches<br />

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