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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

várias colegas, e mesmo muçulmanas, que tiveram filhos antes<br />

do casamento, que tiveram uma vida sexual antes do casamento,<br />

portanto, isso já não é...” (Kumbá, 19 anos, origem guineense,<br />

namora com um guineense de outra etnia, não muçulmano)<br />

Diminga, já nascida em Portugal, considera mesmo que a influência do<br />

padrão cultural da sociedade portuguesa é determinante na construção<br />

da sua representação face a determinados valores tradicionais como a<br />

virgindade. Tal como ela, Aisatu, apesar de ter vindo para Portugal já com<br />

18 anos, confirma a transformação do seu sistema de crenças e valores<br />

após a migração:<br />

“Na Guiné eu nunca tive relações, mas eu tinha um namorado. Ele<br />

era da mesma religião, mas nunca tivemos... Acabámos por<br />

separar por causa disso, porque os rapazes querem... e nunca<br />

pode haver. Ele precisava de estar comigo e eu não podia, achava<br />

que não podia fazer aquilo, porque não conversámos sobre<br />

casamento, era só namorar. Mas actualmente já há muitas raparigas<br />

que... Isso já está a regularizar-se. Muito mesmo. É por isso<br />

que eu já tenho outra mentalidade”.<br />

[Com o actual noivo, que conheceu em Portugal:]<br />

“É assim, eu acho que... Quer dizer, eu não podia esperar, não sei<br />

se estás a perceber Então, depois de namorarmos há muito<br />

tempo, Já tinha decidido que ia casar com o meu marido, perder<br />

tempo à espera de casar também... Eu acho que não valia a pena<br />

perder tempo e entreguei-me. Mas a religião exige mesmo. Claro<br />

que eu respeito que é importante, mas eu achava que não era tão<br />

valioso, porque eu pensava: «Ninguém sabe se eu vou morrer<br />

amanhã, se eu vou morrer hoje, tenho que aproveitar a vida». Por<br />

acaso a minha mãe compreendeu mesmo, porque foi mesmo<br />

com o meu marido. Acho que o meu pai tinha reagido pior,<br />

porque ele é mais fanático na religião que a minha mãe, sabes”<br />

(Aisatu, 23 anos, origem guineense, noiva de um guineense<br />

muçulmano)<br />

“Eu nunca dizia à minha mãe nada, né Até que um dia ela, depois,<br />

na altura quando estava a namorar, ela depois perguntou mesmo:<br />

«Então, és ou não», e eu assim: «Eu não, eu não sou». Sei que ela<br />

ficou chateada, e eu era assim: «Ó mãe, vocês também... tanta<br />

coisa, pá! Nós não nascemos lá, nós nascemos aqui, temos outra<br />

mentalidade também». A gente está assim no meio, temos aquela<br />

mentalidade um pouco deles e um pouco também mentalidade de<br />

cá”. (Diminga, 25 anos, origem guineense, filha de Mariatu.<br />

Casada há 7 anos com um guineense muçulmano)<br />

Maria Abranches<br />

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