PERTENÃAS FECHADAS EM ESPAÃOS ABERTOS - Acidi
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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />
como “o nosso Natal”, sendo o Natal ocidental uma importação simbólica<br />
que algumas destas mulheres também celebram, devido às redes de<br />
sociabilidade estabelecidas com vizinhas portuguesas, no caso, por<br />
exemplo, de Leila, ou devido aos casamentos mistos existentes na família,<br />
como é o caso de Nisa:<br />
“Em Dezembro, a noite de Natal é passada em casa do meu tio,<br />
sempre, com uma árvore de Natal, porque a mulher dele celebra<br />
o Natal, e se ela está connosco no nosso dia, porque é que nós não<br />
havemos de estar com ela no dia dela Fazemos a troca de<br />
presentes e tudo. É impossível, nos dias de hoje, estares em<br />
Portugal, sentires tudo à tua volta a celebrar o Natal, e tu não<br />
sentires qualquer coisa cá dentro, não dá”. (Nisa, 24 anos, origem<br />
indiana, enteada de Samirah)<br />
“Natal também gosto, porque o profeta Issa – Jesus nós chamamos<br />
Issa – é o nascimento dele, que mal tem a gente fazer<br />
Portanto, eu gosto, esse dia, de fazer cozido como fazem os<br />
portugueses. Couve, bacalhau e... como que chama aquilo Grão.<br />
Comemos, e às vezes a minha vizinha também convida-me e vou<br />
lá passar o Natal com ela”. (Leila, 67 anos, origem indiana, mãe<br />
de Manar)<br />
Ainda a propósito do Natal cristão, o seguinte testemunho de Inas exemplifica<br />
de forma curiosa a consciência, por parte da jovem, de algumas<br />
perdas ligadas à sua herança identitária, quer a nível do controlo familiar<br />
que constitui um obstáculo, em alguns aspectos, à sua liberdade, quer,<br />
neste caso, a nível material, ligadas à troca de presentes no Natal, que<br />
não se realiza na família da jovem:<br />
“Quando somos miúdas e pensamos que não temos tanta<br />
liberdade como as nossas colegas, é a única altura que pensas<br />
em não ser muçulmana. Nessa altura pensava que gostava de não<br />
ser muçulmana. E é também quando, tipo, no Natal, que tu és<br />
miúda e vês montes de prendas, percebes”. (Inas, 27 anos,<br />
origem indiana)<br />
5.3. Formas de Participação e Apresentação das Mulheres<br />
no Espaço Público e Privado<br />
A divisão do espaço público entre os sexos é um aspecto tradicionalmente<br />
central na religião muçulmana. Tal como foi possível observar em<br />
algumas cerimónias rituais já referidas, mulheres e homens são constantemente<br />
separados no espaço, sobretudo nos locais sagrados.<br />
Maria Abranches<br />
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