PERTENÃAS FECHADAS EM ESPAÃOS ABERTOS - Acidi
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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />
beber, tipo, um shot na brincadeira, se estamos ali todos, mas,<br />
tipo, só para acompanhar, pronto. Mas também é uma das coisas<br />
que não se deve fazer, é uma das coisas proibidas. Nós é que<br />
fugimos um bocadinho. O meu pai não sabia, e era uma das<br />
coisas... Se calhar, se ele soubesse que eu bebia uns shots, ele<br />
ficava mesmo triste, porque é uma daquelas coisas que o meu pai<br />
sempre pediu para não fazermos”. (Inas, 27 anos, origem indiana)<br />
A adaptação das práticas religiosas aos condicionalismos da vida destas<br />
mulheres mas, sobretudo, das jovens, faz parte, portanto, dos<br />
desfasamentos entre crenças e convicções e comportamentos a elas<br />
associados. Embora nem sempre cumpram todas as práticas definidas<br />
como obrigatórias pela religião, todas as entrevistadas se declaram<br />
crentes e reforçam a importância da fé religiosa nas suas vidas, sendo<br />
fonte de força e conforto. O controlo familiar e social que se faz sentir em<br />
vários aspectos no interior destes grupos, tal como nas redes de<br />
sociabilidade ou nos casamentos intra-étnicos, não tem o mesmo peso no<br />
que diz respeito às práticas religiosas. Na medida em que as próprias<br />
mães nem sempre cumprem todas as obrigações da religião muçulmana,<br />
também não impõem às filhas essa exigência. No entanto, algumas<br />
referem precisamente a tendência para o enfraquecimento da prática da<br />
religião entre as gerações mais novas:<br />
“Eles fazem o possível, também vão seguindo. Mas aqui, a maioria<br />
dos jovens não segue, só se dizem muçulmanos, alguns, só de<br />
nome. A maioria desses bebem, não escolhem o que comem, só<br />
vão participar quando há festa, de vez em quando, ou uma coisa<br />
assim”. (Mariatu, 44 anos, origem guineense, mãe de Diminga)<br />
A frequência das escolas corânicas, por outro lado, demonstra a preocupação<br />
dos pais em transmitir a identificação religiosa aos seus filhos.<br />
Também o período do Ramadão, por ser vivido em conjunto por toda a<br />
família, sendo um mês caracterizado pela intensificação das redes de<br />
sociabilidade intragrupal, é aquele em que as obrigações religiosas são<br />
mais seguidas por grande parte das jovens. A relação destas com o Islão<br />
não consiste, portanto, unicamente de perdas, mas também numa<br />
mudança da sua natureza (Campiche, 1997). Se, por um lado, as jovens se<br />
sentem menos ligadas à Shari’ah (lei religiosa) e às práticas da religião,<br />
muitas permanecem ligadas à sua espiritualidade, conteúdos éticos e a<br />
algumas normas sociais.<br />
A negociação de referências identitárias encontra-se, por sua vez, igualmente<br />
presente nas formas de religiosidade vividas pelas mulheres<br />
muçulmanas em Portugal. O dia de Aid (final do Ramadão) é referido<br />
Maria Abranches<br />
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