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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

um peso importante, são adaptadas à sociedade ocidental e a religiosidade<br />

ganha um sentido mais individual (Cesari, 1997; Lamchichi in Ragi,<br />

1999; Roy, 1999).<br />

A propósito das famílias oriundas do norte de África em França, Avenel e<br />

Cicchelli definem as estratégias das jovens como “revolução tranquila”,<br />

qualificando-as de prudentes mas decididas, onde, paralelamente à vontade<br />

de preservar a herança familiar, a construção das identidades abre-se aos<br />

modelos exteriores de comportamento, visando conciliar a pertença<br />

familiar com a realização de projectos pessoais (Avenel e Cicchelli, 2001).<br />

Também nestes dois grupos de mulheres se verifica, como foi demonstrado<br />

ao longo desta pesquisa, uma articulação entre o desejo de<br />

autonomização e a vontade de manter a coesão familiar, que, por sua vez,<br />

se encontra ligada aos valores de origem. Quer por autoidentificação com<br />

esses valores, quer devido às vantagens retiradas da coesão familiar e<br />

social a que estes se ligam, estas mulheres também procuram manter<br />

parte deles, ao mesmo tempo que pretendem estabelecer percursos de<br />

individualização, indispensáveis à sua realização pessoal. A (re)construção<br />

identitária destas mulheres é, assim, um processo extremamente<br />

complexo, chegando-se aqui ao ponto fulcral da análise. Porque o<br />

sistema de heranças a partir do qual é construída a história social dos<br />

seres humanos se traduz em limites e potencialidades, eles são simultaneamente<br />

livres e condicionados (Almeida, 1995), sendo fortemente<br />

complexa a definição da fronteira entre a imposição do controlo familiar<br />

e social nestas mulheres, e a vontade de manter as referências herdadas,<br />

na definição das suas estratégias.<br />

Destacam-se, porém, as diferenças encontradas nos dois níveis de<br />

comparação que atravessaram a análise. Entre as mais jovens, em geral,<br />

o desejo de autonomização é maior, sendo mais conscientes as negociações<br />

que desenvolvem nesse sentido, enquanto, entre as mulheres<br />

mais velhas, são, muitas vezes, as próprias circunstâncias vividas na<br />

sociedade receptora – como as dificuldades económicas que, nos<br />

primeiros anos em Portugal, as levam a exercer actividades profissionais<br />

no exterior – ou a influência dos projectos pessoais das suas filhas,<br />

ligados à maior abertura das redes de sociabilidade destas, que<br />

conduzem as suas estratégias de autonomização. Entre as guineenses,<br />

porque o controlo exercido é menor, a necessidade de negociação de<br />

estratégias de autonomização é também menor do que entre as indianas,<br />

embora permaneça a forte ligação aos valores de origem, quer por<br />

vontade das próprias, quer pelo controlo familiar e social que, embora<br />

mais ténue, não deixa de estar presente.<br />

Maria Abranches<br />

200

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